sexta-feira, 9 de abril de 2010

So shine, ballerina


Bailarina equilibrista, é assim que eu sou. A vida, digamos assim, é uma imensa tenda de circo. Tantas e tantas pessoas se exibindo, mostrando seus dons, fazendo mágica, e os espectadores que só assistem. Então, eu me posiciono no fio de aço, seguro com fé o bastão que me equilibra, e avanço. Não assisto a vida de ninguém passando, caminho nervosa pé ante pé: prossigo.
É difícil se equilibrar quando o medo de cair toma conta. Quem sabe, nem rede de segurança me aguarda lá embaixo. Concentro todas as minhas forças em continuar, lentamente caminho na corda que balança sob meus delicados pés - que ainda possuem tantos passos a dar, em tantos lugares diferentes. Surgem imensos problemas durante o percurso, aliás este que visto de fora parece tão curto e simples. Mas ser bailarina e topar com estes problemas não é mole, não: faz tremer as pernas, querer largar aquela vara e voltar correndo para quando não existia nada daquilo. Respiro fundo, então, ajeito a saia, recomeço com calma e cabeça erguida, avanço. Imagino tantas coisas, nessa vida tão bamba, tão alta e apavorante. Mas que ao mesmo tempo é tão bela, espetacular. Sinto tomar conta uma ânsia de olhar para trás, reviver momentos, fazer diferente pra que desse tudo certo. Mas não: estou em cima do fio de cobre, não me permito olhar para trás. Bailarina equilibrista só olha pra frente, anda gentilmente em passos formosos e desenhados. Não fala bobagem, não anda para trás, não perde o equilíbrio: fina flor de jardim. Equilíbrio, no topo da vida, é o meu dilema, meu espírito e profissão. Me confio meus dons, me deixo ser como sou, mostro toda a verdade. Me admiro sendo corajosa, enfrentando a vida de cara com meus medos e ameaçada de cair a cada passo.
Repito sempre: calma, respira, tudo vai melhorar. Parece que não, mas já está melhorando, olha bem aqui. Viu? Pra que estress? Voa, fique leve, deixa ser. Tranqüila. Agora sobe naquele fio e arrasa. Desfila com toda a sua compostura e dignidade, é a sua vez. Está é a sua chance de brilhar, bailarina.

Clarissa M. Lamega

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Só enquanto eu respirar. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino