sábado, 17 de abril de 2010

Amor que late



Um cachorro não liga para quanto você tem em sua conta bancária ou se você é popular e bem-sucedido. Às vezes, prefiro até mesmo permanecer na companhia das minhas pequenas poodles do que de gente. Porque a única coisa que um cachorro exige de você é um afago quando você puder dá-lo, um carinho ou colo para se apoiar. Não pede, não exige. Ele não vai te julgar por esquecer de uma promessa feita a ele, por não comprar presente de aniversário, e a qualquer momento em que você chamá-lo ele irá saltitando e abanando o rabo prontamente te atender.
Minhas duas poodles são ciumentas e carentes, possuem uma alegria simples e se satisfazem com uma bolinha jogada, ou palavras meigas. Elas sentem a dor da gente, sim. Tantas vezes eu ficava quieta em um canto da casa, com o coração apertado de tristeza, mágoa ou raiva, e lá vinham as duas peludinhas pulando para perto de mim. Como quem afasta a alegria num momento dolorido, eu empurrava-as do meu colo e dizia que não, não agora. Sentindo o que se passava, elas, miudinhas mas com coração enorme, prestavam sua parcela de carinho em um gesto simples: apoiavam o focinho em meu colo, deixavam as orelhas baixas e olhavam para meus olhos com carinha de tristeza. E eu podia jurar que compreendiam tudo o que se passava, e que sofriam em silêncio comigo. Não perguntavam nem exigiam explicações, apenas deixavam todo o seu apoio de cão ali no meu colo. É como quem diz: "Ei, amiga, não sei o que está acontecendo, mas estou aqui". Amigas de focinho, narizes molhados, quatro patinhas fofas e cobertas de pelos. Bicho sabe o que sentimos, e ficam do nosso lado até a dor passar. Só o fato de ver a solidariedade de um serzinho que cabe dentro de uma caixa de sapatos já me fazia sorrir. É amor calado, sensível, que gosta de cheirar e lamber.
Lembro também uma vez que segurei uma delas no colo, para pentear seus pêlos, e a outra veio mansamente se infiltrar no espaço restante das minhas pernas. Como estava trapalhando minha tarefa, retirei a intrometida do colo e continuei penteando. Imediatamente, enciumada, ela voltou e subiu rapidinho por cima da outra - mesmo sem espaço algum - e dessa vez eu gritei pra ela sair e vi seus olhinhos tristes se afastando devagar. Fiquei com dó da pequenina e fiz um afago, ela prontamente respondeu abanando o rabinho e brincando, sem nem lembrar da bronca. Cachorro não guarda mágoa, por mais que nos descabelemos, gritemos e empurremos eles. São criaturinhas fiéis, que só lembram as coisas boas que fizemos. Já pensou se ser humano também fosse assim? Ninguém guardaria rancor no coração, e o mundo seria um mar de rosas. Companheirismo é o lema desses amigos caninos.
Cachorro não larga roupas pela casa (o máximo que você pode achar é uma bolinha debaixo do armário), não exige comida requintada nem reclama da que recebe. Ele não te pede para ir ao mercado, limpar a casa ou lavar louça. Cachorro não exige que você brinque com ele na hora em que ele quiser (mas lembre de fazer isto em algum momento). Não liga para roupas de marca, nem se você é feio ou bonito, gordo ou magro. Cachorros não ligam para bens materiais, e o máximo que pedem são um potinho de água, um de ração e um paninho velho que sirva de cama. Em troca disso, te darão uma lição de simplicidade e todo o amor que couber nos coraçõezinhos deles. E, se você for realmente esperto, vai valorizar todo esse carinho meio peludo, que vem sobre quatro patas e rabo abanando.


Clarissa M. Lamega

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