quarta-feira, 31 de março de 2010

Quero abraçá-lo, mas talvez eu só escreva sobre isso



Lá está você, com toda a sua onipresença me seguindo enquanto eu vou ao mercado, atravesso a rua, corto o cabelo, paro para ler em uma praça, atravesso a rua distraída, assisto tevê num imenso sofá vazio. Pelo menos, gosto de pensar que você está comigo. E se faço um bolo, lembro do dia em que você melou os dedos no chantily do bolo de mercado e lambuzou meu nariz, minha boca e meu rosto. Aí eu lambuzei o seu, feito duas crianças. Tomo café e lembro sua preferência: só com leite. Mudo os móveis de lugar, redecoro a casa, apareço nas festinhas dos amigos e nada enche esse vazio no peito. Esses dias decidi mudar meu quarto. Enquanto arrastava a cama do lugar, perdido perto do canto da parede encontrei, adivinhe: aquele pé de meia que você perdeu e foi trabalhar só com o outro. Ri sozinha lembrando da sua indignação diante do meu ataque de risos histérico. Me dei ao luxo de ter um dia de nostalgia. Fui na cafeteria aonde pedíamos o nosso "expresso duplo e capuccino cremoso" nas tardes de terça entediantes, sentei na "nossa mesa", rabisquei o guardanapo aonde costumávamos escrever uma palavra intrigante e observar de fora a expressão de quem lia. Vi na floricultura um rapaz com um buquê imenso de rosas vermelhas, e me lembrei imediatamente do quão romântico você foi ao me entregar rosas quando eu convenci minha mãe a não viajar conosco. Folheei o livro que você me deu de aniversário, li a dedicatória tímida, tirei nossas fotos e suas cartas de dentro da caixa para olhar. Lembrei do dia em que chamei seu irmão de "docinho" no telefone, pensando que era você, e da vez que gritei com você pelo telefone e logo depois bati à porta da sua casa com o urso que você me deu debaixo do braço e chinelos, pedindo para dormir com você. Assisti o filme que vimos no cinema no nosso primeiro encontro, vesti seus chinelos tamanho 42 por um dia inteiro, tirei sua blusa (que você esqueceu comigo) do guarda-roupa e deixei seus cheiro se misturar com o meu. Chorei um pouco lembrando do último beijo e da última vez que passeamos de mãos dadas, das brigas intermináveis e da última palavra. Chorei lembrando que fiquei com o telefone no ouvido escutando o "tu tu tu" depois de você ter desligado. Passei na frente da sua casa, fiquei parada um pouco vendo as luzes dos cômodos se acenderem e se apagarem, fui embora. Lembrei de quando você me aninhou na rede, lá na praia, e cuidou de mim quando eu me gripei e fiquei de cama. Comprei o sabor de sorvete que você gosta e comi sozinha assistindo um filme deprê. Li umas revistas que você achava a maior bobagem do mundo, escutei a "nossa música" no repeat do rádio. E sabe de uma coisa? Nada que eu faça vai diminuir a dor da perda, então quero mais é sentir cada milímetro de você dentro de mim. Dói sim, é difícil sim. Mas te lembro e te curto em cada detalhe do que ficou: desde uma meia embaixo da cama até uma frase sua cochichada no pé do ouvido. Sinto você perto de mim todos os dias, e sei que foi bom o que passou. Mesmo longe, pensa em mim também, tá?

Clarissa M. Lamega
If everyone goes away, I will stay
We push and pull
And I fall down sometimes
And I'm not letting go
You hold the other line
Cause there is a light in your eyes, in your eyes ♪

Breathe in breathe out - Mat Kearney




terça-feira, 30 de março de 2010

Vou te sonhar comigo


Sabe que esses dias tive um sonho muito estranho contigo?
Abri os olhos e vi um céu azul cheio de nuvens grandonas e arredondadas, branquíssimas, como se desse pra pular nelas. Senti uma mão no meu cabelo e me assustei, congelei os sentidos de medo. Um sorriso de ponta cabeça se desprendeu na minha frente, seus grandes olhos apareceram piscando pra mim, numa serenidade tão grande que logo me deixou tranqüila. E o azul do céu rodeando seu rosto que sorria por inteiro, me dando a maior alegria do mundo. Eu estava deitada no seu colo, seu cheirinho pairava acima do meu rosto, você brincava no meu cabelo, ria e beijava minha testa, de ponta cabeça. Você me pediu pra levantar, então levantei e me preparei para a próxima surpresa, na maior vibe de calmaria, só nós dois num lugar lindo: grama verdinha, árvores, campo e algumas poucas flores. Surge no meio do sonho um carro, e aí tudo fica confuso: você entra rapidamente no carro, seu sorriso vira arrogante e malicioso, pisa no acelerador e vem na minha direção. Sinto meu corpo inteiro formigar, e apago ouvindo o barulho do motor do carro correndo pra longe.
Acordo meio tonta vendo um teto branco, olho para os lados e vejo várias pessoas deitadas em macas, concluindo que era um hospital. Você estava sentado numa poltrona de visitante, vê que eu acordei e chama rapidamente médicos para dar as boas novas. Eu me confundo mais ainda com sua reação enérgica e feliz, então não entendo mais nada. Suas roupas e seu cabelo pareciam diferentes, era outro dia longe do acidente, eu devia ter dormido por muito tempo. Tudo parecia bem, então sinto um quente escorrendo no peito. Levanto o lençol e vejo sangue manchando a roupa, sinto o coração bombeando e parecendo explodir no peito, me apavoro e grito seu nome, "socorro!". Você continua calmo, mas agora com uma expressão de piedade no rosto, passa a mão no meu cabelo e diz que está tudo bem, baixinho e várias vezes. Com uma crueldade anormal diante do meu pavor, eu continuo gritando e vejo médicos e enfermeiras com o mesmo olhar solidário dizendo que "só eu poderia fazer parar".
Então, de repente o cenário muda para uma sala toda vermelha, com um relógio vermelho na parede e um sofá no mesmo tom. Vejo um bilhete com a sua letra (jamais esqueceria dela: meio torta, mas simpática, com o seu jeito) aonde está escrito: "Volto logo, amor, não se preocupe." Passo os dedos no bilhete e sorrio, dou umas voltas no lugar e não vejo nenhuma janela ou porta na sala carmim. Por onde você entrou? Como deixou o bilhete? Por que eu estava ali, afinal? Por que não me ajudou quando eu estava sangrando? Por que diabos me atropelou? Mistério. O vermelho da sala me dava nervosismo e raiva, sentei na poltrona de frente para o relógio e descobri que estava parado. Que horas eram? Há quanto tempo eu estava ali? Não sei, mas tenho o péssimo hábito de relacionar sonhos à vida real, principalmente quando acordo suando e respirando forte.
Você sempre me atropela. Não, não precisa nem sair do lugar: basta um gesto seu, uma frase suspeita para meu coração acelerar, o planeta todo tremer, eu me sentir sufocada, o corpo perder os sentidos, e babau, já era. Você - e só você - tem o poder de me atropelar como um trem me esmagando entre os trilhos, me deixando tonta e burra (coisa que ninguém mais é capaz). Num instante é terno e carinhoso; no outro, frio. Não entendo por que me atropela e vem me cuidar no instante seguinte. Me detona, e logo depois se torna o cara mais protetor do mundo. Me vê ali, acabada, cansada e com o peito explodindo, sem fazer nada. Torno a repetir: amor é via de mão dupla, amor de um lado só não flui. Amor atropelado, escrachado e ferrado - infelizmente - é o único que me deram até hoje. E por isso eu cuido bem dele, mesmo sentindo-o vazar do peito de tão grande que é. E a sala, aah, a sala! A promessa de volta, certo? E te espero sentada, te espero fingindo que estou lendo um livro, te espero enquanto tomo banho e me arrumo, te espero olhando para a janela, sentada na sacada ou vendo uma novela que nem acompanho só para fingir que não te esperava, quando você chegasse. O relógio nunca anda, não corre, só continua parado. A hora não passa e te espero todos os segundos dos minutos das horas de todos os dias. Atropelada pelo amor ou não, ferida ou não, sentindo o amor sufocar ou não, sangrando ou não, trancada numa sala ou descabelada, fingindo mil coisas, pensando em sonho doido ou ficando maluca: mas te espero. De corpo, alma, braços e peito abertos, no meio da rua da sua casa. Mesmo que doa, mesmo que você passe por cima de mim, mesmo se não puder acordar no seu colo com seu sorriso de ponta cabeça no meio do azul, mesmo sem te dizer tudo isso: te quero. Hoje, sempre, amém.

Clarissa M. Lamega
"Escrevi horas. Sem sentir, cheio de prazer. Quando pensava em parar, o telefone tocou. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falou meu nome, uma voz quente repetiu que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar, pediu. [...] Se podia voltar, insistiu, para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor e para sempre agora."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 29 de março de 2010

"A chave (que você sempre esquece) na fechadura é tua dor se debruçando em qualquer coisa que não pareça um buraco negro sem fim. Me alegro em pensar que meus braços parecem um tanque de calma que você mergulha quietinha, trêmula, menina. Fica ali, aninhada, lavando as manchas da alma, respirando baixinho minha serena confiança de que tudo fica legal, como se meu peito fosse o último tubo de oxigênio de todos os ambulatórios do planeta."

Gabito Nunes

Sem mentira, mulherada: quem é que não queria escutar isso aqui?
"Minha maior dor é não saber fazer a única coisa que me interessa no mundo que é amar alguém. Me perdoa por eu querer de uma forma tão intensa tocar em você que te maltrato. Minha mão acostumada com um mundo de chatices e coisas feias fica tão gigante quando pode tocar algo lindo e puro como você, que sufoca, esmaga e estraçalha. Me perdoe pela loucura que é algo tão pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tão grande que expulsa o amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na alma."

Tati Bernardi



"Ele não é só um cara..
Esse sim, esquenta as suas mãos e escuta os seus impropérios e gracinhas com o mesmo apego. Ele não te deixou apodrecendo ali onde você não pudesse incomodar. Ele é diferente de tudo o que é errado em seu mundo e em outros mundos.
Você diria que ele salvou sua vida se não soasse tão dramático. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente. Ele não é só um cara.
Ele te ouve como se te entendesse, fala como quem soubesse o que dizer e não diz nada muitas vezes, porque ele entende os silêncios. Ele existe. Você sabe que seriam bons amigos, bons parceiros, bons inimigos, mas você prefere ser a garota dele.
E sabe que serão importantes na história um do outro para sempre, independentemente de tudo que estiver pra acontecer. Porque ele não é só um cara. Você não quer mais só um cara. E ele é tudo que você quer hoje."

Tati Bernardi
"Precisar é sempre o momento supremo. Assim como a mais arriscada alegria entre um homem e uma mulher vem quando a grandez de precisar é tanta que se sente agonia e espanto: sem ti eu não poderia viver."

Clarice Lispector

domingo, 28 de março de 2010

"Se eu não disse é porque não sabia que sabia mas agora sei. Vou te dizer que eu te amo."

Clarice Lispector
" - Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu."

Caio Fernando Abreu
Amar o mar

A
ndou devagar pela rua deserta na noite menina que fazia lá fora. Cantava como quem espanta a vida; espantava todo aquele que vivia. O problema mesmo era o espanto, a vontade de sair correndo. Andava até sentir nos pés uma fofura: a areia. Tirou as sandálias e brincou com os dedos que curtiam os grãozinhos fazendo coceguinhas de leve. Caminhou sozinha na praia com a cabeça bem pra longe, sentiu nos dedos os dedos do outro, mas era só impressão mesmo. Levantou os olhos e viu o mar, Omar que beijava a praia. O mar não sabe o que é amar - pensou com delicadeza de mulher. Deixou que beijasse seus pés suavemente como homem que descobre devagar o corpo dela, abriu os braços e os dedos sentindo o vento abraçar-lhe todas as curvas, até as mais despercebidas. O cabelo bagunçava e se misturava à paixão da maresia que invadia-lhe as narinas, de olhos fechados sentindo o prazer de deixar-se levar. Entrava lentamente na água da praia deserta, recebia de presente peixes e conchas do mar que se apaixonou pela bela. Ondas pelas pernas finas fazendo carícias geladas, o mar comandando um ritual que se estendia debaixo das estrelas que mais pareciam purpurinas jogadas em camurça azul-marinho. Seus olhos brilhavam, ela jogava água nos cabelos, no pescoço e ventre, se entregava ao mar com pureza de menina e desejo de mulher. Girava com os braços na água olhando para a lua cheia, branquíssima e plena de tudo. Também queria ser plena, inteira, completa. Queria amar, estava fazendo carinho no mar e sentia preencher as lacunas do peito ali. Um céu brilhante e as oferendas de amor de cada um, da menina e do mar. Se doou, se entregou, amou, deixou, desatou o nó, abriu a porta, voou, correu, escapou, deixou invadir e invadiu, deu carinho e recebeu carinho entregue na pele, amou da forma mais extraordinária. O mar beijava com ternura suas mãos, boca, pele mansa e se enroscava suavemente em seus cabelos. Deixou-se seduzir e se encantou pela beleza inevitável das águas doces e lindamente puras (porque de salgado o mar só tem o nome). Fugiu, inventou, deu uma chance e sorriu sem fim nos mistérios do mar. A felicidade, o potinho de ouro no final do arco-íris, estava naquele que nunca poderia lhe machucar. Naquela noite, ela aprendeu a se doar com leveza. Soube do amor, do desejo e da entrega. Talvez até re-amar. Ensinou o mar a amar.

Clarissa M. Lamega

sábado, 27 de março de 2010

Inside



Descrevo nessa carta não só as tuas mais belas formas, como mais perfeitas linhas que me fazem girar e me embaraçar nos teus fios. Você me confunde, me surpreende e me tira o ar tudo ao mesmo tempo. Não sei, realmente não sei o que é melhor do que me perder o cheiro do seu moletom jogado no meu colo enquanto te vejo jogar futebol com seus amigos. Me agarro no seu perfume e inspiro; respiro - assim está melhor. Uma dose de amor sua me deixa doida para o resto do dia enquanto deito no seu colo escutando uma música que combine com nós. Somos tão tortos e errados e ao mesmo tempo não sei dizer o por quê de eu querer que você seja o mais certo - certo pra mim, certo na minha vida, certo nas tuas frases feitas. Quero que você obedeça a minha intuição e reme contra a maré, reme comigo e destrua todos os monstros do oceano que querem me amedrontar. Faça isso: mostre que é você. Particularmente, nunca acreditei em príncipe, e sei que você não é. Mas mesmo sem cavalo, sem castelo nem dragões pra enfrentar, eu acredito que você seja o mais próximo de um príncipe que eu já tenha conhecido. Volto a reforçar que toda essa palhaçada de príncipe não passa de mera bobeira pra meninas se encantarem, mas se você acreditar comigo, adoraria fingir que existe. Eu poderia até ajudar a matar os dragões e enfrentaria reinos inteiros pra você vir comigo. Mas me contento quando você segura meu rosto e me olha profunda/serena/apaixonadamente nos meus olhos. E aí já desisto de tudo: quero que as coisas sejam assim mesmo, com musiquinha cantada no pé do ouvido e carinho dedilhado pra dormir. Quero tua voz pra escutar de olhos fechados e poder dizer 'amor amor amor' mil vezes seguidas. Te curto desde o fiozinho de cabelo até a ponta dos pés. Te digo palavras doces em pensamento e torço pra de alguma maneira - desconhecida e sobrenatural - você me ouvir por dentro. Porque, se você prestar atenção, vai ouvir o som que fazemos juntos. Dance comigo, entre no ritmo, esqueça os detalhes. Come on. Te digo isso cochichando encostada no seu peito, pertinho do seu coração pra ver se ele me entende. O que conta é que agora, quero me afundar nos teus mistérios e te sentir bem fundo em mim. Como sempre deveria ter sido.
Clarissa M. Lamega
"Onde aprender a odiar para não morrer de amor?"

Clarice Lispector


"Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.Receba em teus braços o meu pecado de pensar.”


Clarice Lispector
Perder-se é uma maneira de fazer novos caminhos e quebrar a rotina. Ninguém acha um atalho sem se perder antes.

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 24 de março de 2010

Devoradora de vida


Acho engraçada essa minha mania de insatisfação que nunca me deixa pensar direito. A vida me dá um prato de emoções e eu já vou pedindo pra ela mandar mais. Quero mais, mais! Nem termino de engolir as primeiras sensações e ainda sorrindo digo que “só isso” não basta. Eu quero mesmo são milhares de pratos cheios prontinhos pra eu devorar com minha fome alucinante que nunca me deixa em paz. Então eu continuo exigindo sempre mais daquilo que provo. Pode não parecer, mas toda essa minha paranóia tem explicação, sim.

Fico imaginando quando eu estiver no finzinho da minha vida, fazendo doces e bolos para meus netos, o que é que eu vou contar para eles? Que eu passei minha vida inteira procurando passar no vestibular e depois arrumar um emprego e ainda depois tentar conservá-lo? Eu quero mesmo é ter muitas histórias malucas e divertidas pra contar, quero é estufar o peito e dizer: “Eu vivi!”. Não tenho medo de me arriscar e colocar toda minha sorte em uma jogada, eu tenho medo é de chegar nessa idade e não ter vivido de verdade. Por isso eu tenho essa fome insaciável de vida, de emoção, de sentir o coração à flor da pele. Não quero perder a vida com problemas rondando minha cabeça, quero entrar na louca às vezes e jogar tudo pro ar, sair correndo e cair na diversão. Quero saber viver.

Eu sei que a vida tem de ser saboreada aos pouquinhos, fechando os olhos e sentindo ela derreter-se na boca igual chocolate, devagarzinho e sentindo cada momento em sua hora. Mas eu sou tão desesperada, tenho tanta sede e fome que quero engolir a vida de uma vez só, sem mastigar e sem pausa, inteirinha e sem parar. Quero sempre devorar a vida como se nunca mais pudesse prová-la. Porque aos poucos você descobre que a vida é tão rara que é preciosa, e que não se pode deixá-la passar despercebida. Eu vejo aquele sorriso mágico e capturo, eu passo por uma felicidade tão simples que parece infinita e capturo, eu sinto um momento de amizade verdadeira num pequeno instante e capturo, eu sinto o amor invadir minhas veias e sistema e capturo, eu me sinto leve e capturo com minha rede pra depois guardar estes momentos e poder desfrutar mais tarde. Na minha abstinência de vida eu preciso sempre buscar uma fonte de felicidade.

As pessoas vêem suas vidas passarem por seus olhos, seus amigos se separarem, seus filhos crescerem, tudo através das janelas de seus escritórios, vêem a vida acontecer por entre os papéis para serem entregues amanhã no trabalho. Então vão se acostumando a deixar de olhar pela janela, a ignorar o que se esconde entre a papelada, para tentar não sofrer. Eu tenho vontade de sair pela rua gritando pras pessoas pararem de serem malucas ao ponto de deixarem a vida passar, de esquecerem aos pouquinhos de viver. É um veneno silencioso que mata devagarzinho, pode não parecer mas estamos todos morrendo, e morrendo sem pedir mais vida. Olha o sol lá fora, olhe que lugar lindo pra vir com sua família, vamos lá com os amigos, vamos viver mais e mais!

Vamos devorar todas as simplicidades de viver, vamos fazer a vida acontecer, vamos buscar felicidade pra nos sentirmos bem. Dá vontade de acordar o mundo inteiro pra todo mundo sentir o quanto é maravilhoso saborear tudo isso, o quanto é bom estar realmente vivo. E não custa nada, é só abrir os olhos pra reparar o quanto Deus foi bom contigo, meu chapa! Claro que não é tudo um mar de rosas, as vezes eu também me engasgo com tanta pressa em comer a vida. Mas também aprendo com os erros, e nada é tão ruim que não me deixe levantar depois e respirar aliviada. Tá na hora de tomar o único porre que eu conheço que não faça mal: o porre de vida!


Clarissa M. Lamega


“Você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda assim é melhor do que o resto do mundo.”

Tati Bernardi
"E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão... adivinhem? Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento"

Tati Bernardi
"Eu não preciso de você nem pra andar e nem pra ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado"

Tati Bernardi

segunda-feira, 22 de março de 2010

Olá, queridos leitores do blog!
Agradeço imensamente a força que vocês têm me dado nesses poucos meses de blogueira. Agradeço de coração os elogios aos meus textos e tantos autores maravilhosos que posto aqui. Vocês não estavam conseguindo comentar devido ao estilo do blog que eu havia escolhido, mas como as críticas de vocês são muito importantes para mim (de verdade), o blog está de cara nova!
Sintam-se à vontade para se expressarem aqui. Ando meio sem tempo de postar, mas juro que vou tentar aparecer mais vezes.
Obrigada pelo apoio e carinho de vocês,

Clarissa.

domingo, 21 de março de 2010

Sobra tanta falta



N
o meio da tarde, em uma conversa boba qualquer, surgiu a brincadeira que a pegou no pulo.Com suas mãos grandes desocupadas e cuidadosas, ele segurou as suas, enquanto dizia com um sorrisinho trapalhão e simpático:
- Você me trata tão mal, sabia? Assim você me magoa. Quer dizer que não gosta nem um pouquinho de mim, não?
A armadilha estava feita. "Corre, que é cilada!", a cabeça dela denunciava sem parar.
- Eu não gosto de você, eu te amo - ela queria falar - Eu te amo tanto que chega a faltar espaço pra mim dentro de mim. Falta ar, falta você comigo, falta espaço dentro do abraço. E você me dói bem dentro do peito. Te amo tanto que escreveria isso num outdoor bem em frente à janela do seu quarto, pixaria essas palavras nas ruas por onde você passa todos os dias, invadiria o Jornal Nacional pra te deixar um recado ao vivo ao lado do Willian Bonner e da Fátima Bernardes. Se eu pudesse, te entregaria o Oscar, penduraria uma faixa com o seu nome entre os braços do Cristo Redentor, seqüestraria um ônibus inteiro e dirigiria até a sua casa. Pularia de bang jump gritando 'te amooooo' durante a queda, te escreveria uma música, te daria uma estrela em pacote de presente. Olha, eu te gosto tanto que te descreveria o sol se pondo enquanto beijo seus olhos fechados dormindo no meu colo, iria até a praia agora mesmo e te buscaria uma estrela-do-mar, procuraria uma pedra em forma de coração pra guardar seu nome. Te amo tanto que me dói inteira, mas ao mesmo tempo me faz tão feliz enquanto te penso na hora de ir dormir. Por você iria até a África e me fingiria de nativa, te levaria aos lugares mais bonitos do mapa, te cuidaria do nascer ao pôr-do-sol. Te amo tanto que gritaria isso no meio da Avenida Paulista, correria no meio do centro vestida de coração, me guardaria pra você todos os dias da minha vida, te mostraria o céu e o inferno. Te amo tanto que te dou boa noite e acaricio seus cabelos todas as noites antes de dormir, mesmo sabendo que tenho só bem dentro de mim.
Mas ao invés de soltar tudo o que ela guardava dentro do coração, foi forte e não deixou nenhum vestígio de amor escondido. Apenas sorriu com os olhos de menina, sentindo doer todos os lugares da alma. Deixou o amor pra escanteio e afirmou, com a maior sinceridade do mundo:
- Eu gosto de você. Gosto muito.

Clarissa M. Lamega

sábado, 20 de março de 2010

"O que te falta? Falta tu mesma se convencer do que te falo com certeza. Tu merece alguém que abra os olhos diariamente e pense: 'cara, eu tô com ela, eu sou o namorado dela!'. Que goste da tua boca, do teu ombro, do te cabelo bagunçado, do eu calcanhar, da tua cintura, das tuas mãos, do cheiro da tua pele, das sardas do teu rosto. E isso vai acontecer naturalmente ao você se dar conta de que tu é bonita, no âmago e na lata. Eu acho, teu ginecologista também, o colega de trabalho assina embaixo. Um dia serás o amor da vida de alguém, do jeitinho que tu é. Falta tu. Acorde hoje e repita: 'eu sou bonita'."

Gabito Nunes
"Saudade é amar um passado que nos machuca no presente. É uma felicidade retardada. É deitar na rede e ficar lembrando das ardentes reconciliações depois de brigas homéricas por motivos desimportantes. Sente-se falta de detalhes, como uma toalha no chão, dias chuvosos, da cor dos olhos. A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura.
Saudade é o amor que não foi embora ainda, embora o amado já o tenha feito. Ter saudade é imaginar onde deve estar agora, se ainda gosta de vinho bordeaux, se chorou com a derrota do Grêmio no campeonato nacional, se tem tratado aquela amigdalite. E quando a saudade não cabe mais no peito, se materializa e transborda pelos olhos.
Por que a saudade é o muro de Berlim desmoronado no chão, capaz de agregar opostos, como a tristeza e a felicidade em uma coisa híbrida. Se você tem saudade é sinal que teve na vida momentos de alegria com ela ou ele! No fim das contas, a saudade que agora lhe maltrata nada mais é que uma dívida sendo paga em longas 36 prestações pelo amor usufruído. Agora aguenta..."

Gabito Nunes
"Não sou boa com números. Com frases-feitas. E com morais de história. Gosto do que me tira o fôlego. Venero o improvável. Almejo o quase impossível. Meu coração é livre, mesmo amando tanto. Tenho um ritmo que me complica. Uma vontade que não passa. Uma palavra que nunca dorme."

Fernanda Mello

terça-feira, 16 de março de 2010


"Por trás de tudo são só quatro letras. É só fonética, morfologia. Sem acento, substantivo qualquer. Nem verbo não é. AMOR não sabe o que é amar."

Verônica H.
"Tudo vale a pena
Quando a alma não é pequena."

Fernando Pessoa
"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."

Mário Quintana
"Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz - a única que pintou até agora, 'nesta minha vida de retinas fatigadas'. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito."

Caio Fernando Abreu


"O espelho nos dá essa sensação mágica de, subitamente, tomarmos consciência de nós mesmos. É o momento em que você se encontra com o que você representa para o mundo. 'Ah, então é assim que eu sou.' Repare que na frente do espelho a gente sempre faz uma careta. É porque achamos que somos diferentes daquilo que realmente somos."


Marcelo Rubens Paiva
" - Pode deixar que a gente vai resolver tudo. Você tem uma cabeça boa, vai sair dessa fácil.
- Eu sei que vou, mas agora eu tô mais preocupado em sair daqui.
- Eu já tô transando isso pra você, fique tranqüilo.
Ela nem precisava ter dito aquilo, tranqüilo era uma coisa que eu ficava só em ouvir sua voz."

Marcelo Rubens Paiva
"Uma maneira de passar o tempo foi pegar uma determinada pessoa, lembrar todos os momentos em que estive com ela, os papos. Aliás, é umamania que tenho até hoje. Isso me angustia um pouco, pois acabo conhecendo muito mais a pessoa do que ela a mim, e dando um valor que nem sempre essa pessoa merece. Cada palavra que ela tenha dito, o gesto ao acender um cigarro, o beijo de despedida acabam se tornando imagens marcantes e importantes no meu dia-a-dia."

Marcelo Rubens Paiva
"Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho."

Martha Medeiros

segunda-feira, 15 de março de 2010

Trem-bala



Eu sei que parece estranho, mas gosto de pensar assim. Um grande trem, com vagões imensos, bancos estofados. Um grande e confortável trem, com várias pessoas acomodadas, tomando seus cafés e conversando sobre a vida alheia. Eu sou esse trem.
As pessoas entram em mim, bem dentro do peito, fazem um passeio e vão embora. Eu tenho um espaço enorme dentro de mim, ó: vários vagões com vista bonita para os sentimentos mais nobres que posso oferecer. Eu tenho assentos confortáveis, e muita gente bacana que mora aqui dentro. O problema, eu sei qual é, mas não entendo como acontece: eu não deixo ninguém ficar por muito tempo. É só um passeio de trem, afinal. Você entra, admira a paisagem, conversa e lê um jornal, bate um papinho rápido e nostálgico, deixa seu perfume e vai. Assim é desde muito tempo. Meus passageiros, corações viajantes, me marcam, sim. Uma mancha de café em cima da mesa, livro esquecido nos assentos, qualquer lembraça boba que prove que valeu a pena tê-los dentro de mim. Mas meu trem tem pressa, passa de estação em estação e não se cansa de correr. Quando ameaça marcar fundo demais, causar qualquer indício de futura dor ou intensidade na minha vida, apelo logo para a saída de emergência, get out, sem dar trela nem chance de algo bonito vir a acontecer.
Essa é a minha incógnita. Não deixo um espacinho sequer nos meus luxuosos bancos de couro pra quem quer ficar mais tempo do que o necessário para tomar um cafezinho. Para me fazer parar, é preciso um bocado de jogo de cintura e marra. Sei que você é maquinista de primeira, portanto vou logo avisando, meu amigo: sou trem-bala, corro e atropelo. Sou trem-bala, morro aos poucos e me desespero. Sou trem-bala, corro e comigo te levo.

Clarissa M. Lamega

domingo, 14 de março de 2010



"Não preciso de modelos. Não preciso de heróis. Eu tenho meus amigos."

Renato Russo
"Eu tenho MUITO dentro de mim e não estou a fim de dar sem receber nada em troca. Essa coisa bonita de dar sem receber funciona muito bem em rezas, histórias de santos e demais evoluídos do planeta. Mas eu não moro em igreja, não sou santa, não evoluí até esse ponto e só vou te dar se você me der também."

Fernanda Mello
"Tudo com o que eu me importo, ME IMPORTA MUITO. Me suga, me leva, me atrai, se funde com tudo o que sou e me consome. Toda. Por inteiro. Sorte minha me doar tanto - e com tal intensidade - e ainda sair viva dessa vida."

Fernanda Mello
"Acho que nos contentamos com pouco. Não falo em dinheiro, que cobiçamos muito. Refiro-me aos tesouros humanos: ética, amizade, amor, sensualidade."

Lya Luft

Nada adianta. Comprei roupas diferentes, mudei o cabelo, tô indo em lugares diferentes, arrumei um emprego novo. Ando estudando, me aplicando, rindo à beça com meus amigos e falando mais besteira que a boca consegue suportar. Rio até a barriga doer, que nem as pessoas dizem pra gente fazer, sabe? Eu sei, minha vida tá bem legalzinha agora, mas não consigo me contentar com pouco. Eu sou daquelas pessoas que está sempre buscando, e sempre quer mais, não consegue sussegar e admirar o que tem. Não sei parar pra ver a paisagem, as flores e o passarinho cantando por muito tempo. Minha insatisfação constante - e incômoda - não me deixa respirar e sentir devagar. Eu quero sempre mais, quero sempre melhor, quero sempre inteiro. Quero me sentir viva por cada instantezinho sequer, quero tomar banho gelado e sentir a água invadindo cada pedacino do meu corpo, quero sentir no peito a dor de te gostar com meu maior mazoquismo saudável. O único que me faz bem, que me faz sentir que vivo, que grito, arrombo, respiro, sorrio e vivo.
Quero beijar seu pescoço e te morder seus lábios sutilmente e com verdade, quero te fazer morar dentro de mim com o maior conforto que meu peito pode oferecer, quero te abraçar com meus braços tão apertados ao redor do seu corpo que te faça sentir meu coração batendo acelerado e louco. Quero te deitar no meu colo e brincar com seu cabelo curto. Quero sentir isso que é mil vezes mais mais emocionante e verdadeiro que qualquer outra mudança radical na minha vida. Quero te ter, quero que você me ensine a sentir e a me sentir viva só respirando na minha nuca e rindo do meu arrepio instantâneo. Quero a vida que só você pode me dar, quero te sentir aos poucos e guardar na cabeça e no coração as mil coisas misturadas que você me faz sentir por segundo.
Por isso, quando digo que quero sentir, que quero viver, não se engane com meus rótulos de quem tem tudo e quer mais um pouco: eu trocaria todas as minhas falsas posses e todas as minhas poses pra você me gostar como eu te gosto todos os dias.

Clarissa M. Lamega
"É preciso que você venha nesse exato momento.Abandone os antes.Chame do que quiser. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates...Apague minhas interrogações.Por que estamos tão perto e tão longe?
Quero acabar com as leis da física,dois corpos ocuparem o mesmo lugar! Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha.
Não sou pedaço. Mas não me basto."

Caio Fernando Abreu
'...A gente tem o vício (eu, pelo menos) de matar a alegria com mil análises críticas que geralmente não têm nada a ver.
Toque o barco sem medo. Gente como você é sempre uma força.'

Caio Fernando Abreu
"Mulheres comportadas, raramente fazem história."

Marilyn Monroe

sábado, 6 de março de 2010


"Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida. Que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir esse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instinto, cansando-me facilmente. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude."

Fernanda Young
"Uma pessoa olhando para um celular que não toca - não há cena mais idiota. Os celulares foram justamente inventados para que ninguém precise mais ficar aguardando uma ligação ao lado do telefone."

Fernanda Young

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sofia e a bagunça do destino



Sofia abriu os olhos no meio da madrugada e chegou a piscar várias vezes para distinguir o real do imaginário. Com o sonho flutuando sobre a sua cabeça, e as mãos esperançosas e destranbelhadas esticadas em sua direção. Ela queria voltar para aquele sonho, e aqueles braços fortinhos e quentes que a abandonaram no meio da noite. A garota fechava os olhos e se concentrava em tudo que sentira e vira no sonho, mas nada trazia aquilo de volta.
Nada o traria de volta, afinal. Acorda de manhã, desliga o despertador, toma um banho quente com os cabelos longos escorridos pelos seios e sorri, sorri para a água caindo sobre seus olhos e do coração desenhado no box, entre a fumaça e o calor, com dedos macios e inocentes de quem ainda não sabia quase nada do amor. Só sabia que amava. Então sofia olhou o coração de fumaça e achou pequeno pra tanto amor, então esticou todos os seus cantos e desenhou um enorme coração, todo cheio por dentro, então riu ao pensar que.
Aquela menina ainda tão nova, mas que já sabia tanto da vida, não conhecera o amor intimamente, não o convidara para um chá nem tampouco convivera com ele. Só sabia que algo a mais batia no peito, e tinha também aquela alegria boba de esperar Pedro chegar, de gaguejar e arrumar o cabelo diante da presença dele. E aah, o perfume! Sim, seu perfume era tão másculo e generoso se distribuindo por todos os cantos aonde ele entrava. Pedro, porém, ao perceber o nervosismo da amiga, apenas dava pequenas risadas divertidas de um grande amigo. ele não ria da água no banho nem mesmo desenha corações em boxes. Mas gostava de olhar para Sofia, e o fazia com o prazer da sua hora mais contagiante do dia.
Pedro voltava para casa de ônibus e esperava por aquele trecho do caminho: o outdoor da propaganda de amaciante, onde uma menina loira sorria de olhos fechados com os braços abertos num gesto enorme como para abraçar todas as flores do campo de flores amarelas aonde estava. Seus lábios e seus cabelos soltos lembravam tanto os de Sofia, e seu sorriso imenso fazia Pedro rir de tantas tolices. Ele, com sua postura já de homem, barba rala falhando em alguns pontos, seus grandes olhos negros que pediam atenção. Suas mãos eram grandes e quem sabe até poderiam juntas abraçar a cintura toda de Sofia, um dia pensou. Sua melhor amiga era sim, magra e muito bonita. Tinha olhos pequenos e atentos esverdeados, lábios não muito grossos, postura delicada e uma maneira divertida e simpática para falar. Pedro chegou em casa e, como havia faltado na aula e perdido matéria, tirou de sua mochila o caderno cheio de figuras diversas na capa de Sofia. Havia pessoas, flores, um disco de vinil, notas musicais, um batom, e todas aquelas partes integrantes do universo feminino meramente coladas na capa do caderno. Ele folheou as páginas procurando a matéria a se copiar, e por um segundo de distração (que também poderia ser chamado de peripécia do destino) deixou cair o caderno mal apoiado na mesa sobre o chão. O que se seguiu então, decidiu todo o rumo desta história. Pedro arregalou os olhos de admiração e se sentiu estranho e surpreso ao ver que, de dentro do caderno jogado ao chão, voou lentamente um pedaço de papel vermelho com as iniciais P.H. seguidas de um singelo coração, até aterrisarem no chão. Coincidentemente, seu nome era Pedro Hoots, o que lhe arrancou, sem nem perceber, um pequeno sorriso dos lábios.

(Continua...)

Clarissa M. Lamega

quarta-feira, 3 de março de 2010

Para a melhor amiga do mundo

Depois de tantas estripolias junto com você, eu resolvi deixar bem claro que você ta comigo agora, e nem adianta tentar sair dessa roubada. Escuta aqui, você sabe que a gente assim, nós duas, já basta pra deixar tudo relax. Depois de tanto tempo, depois de tantos micos, quero deixar bem claro que eu encontrei em você um colo amigo, um alguém pra contar tudo depois de um dia com ele. Afinal, melhor amiga perfeita, assim como você, não se encontra em qualquer lugar, nem a qualquer momento.

E te digo ainda que não me importo em ficar ao seu lado o ano inteiro, todo dia, nessa rotina de loucas que não se desgrudam. Olha, eu adoro gastar meus dias, meus fins de semana,contando tudo pra você ou escutando tudo de você, porque em um dia já tem um mundo de notícias pra desabafar ou comemorar. E é assim mesmo, amiga, igual montanha russa essas nossas vidas. Cheias de trancos, altos e baixos, loopings e repletas de emoções. Sorte minha que eu posso chegar perto de você e dizer: “guriiiiiaaa, você não sabe o que aconteceu!” e desabar um turbilhão de novidades em cima de você, porque se torna muito pesado carregar tudo sozinha. Mas desse jeito, eu te ajudo a levar tua sacolinha de problemas (ou seria mala?!) e você me ajuda a levar a minha, e é assim que a gente faz. E sabe qual é o melhor de tudo? Saber que um dia a gente ainda vai sentar em um lugar qualquer e rir de toda essa situação. Porque, afinal, rir dos problemas com uma amiga é tudo o que nos completa e nos resta no final, num final que logo gira e se torna recomeço. Essa roda gigante nunca tem fim mesmo, é sempre assim, a vida é assim, meu bem. A nossa grande glória mesmo é que sempre tem dois lugares no carrinho.

E você, companheira de loucuras, é sempre aquela que tem alguma coisa pra dizer, um conselho pra dar, ou, quando não há nada a fazer, tem uma bobeira qualquer que nos faça rir e esquecer de tudo. Você é a amiga que todos deveriam ter, a amiga que consegue ser tudo e ocupar o lugar principal na minha vida, e que ainda assim não deixa faltar nada. Ta certo, você pode não ter os ombros largos de um homem, as mãos largas para confortar de homem, um colo de homem, e nem os carinhos de um homem. Mas isso é ótimo, porque significa também que você não tem as birras de um homem, as complicações de um homem, as bobeiras dos homens que fazem a gente perder a cabeça, as burrices dos homens, a brutalidade e pose dos homens, e muito menos o machismo dos homens. Assim, tudo fica bem mais fácil e perfeito, porque você é amiga, é aquela que tem tantos problemas e dúvidas quanto eu, passa por tantas situações parecidas com as minhas, vive em tanta harmonia comigo, que chega ao ponto de eu me reconhecer em você.

Ta, eu sei que é estranho, mas só quem tem uma amiga como a minha sabe como é isso. Porque quando se tem uma amiga-irmã, assim como eu, as duas pensam na mesma coisa juntas, e reconhecem o feito só pelo olhar, as duas tem amores parecidos, passam por um furacão louco de diferentes sentimentos todos ao mesmo tempo, pensam nas mesmas soluções, tem as mesmas vontades, a até mesmo cometem os mesmos erros. Quando se tem uma amiga igual a minha, você sabe que apesar de ter feito uma burrada, ela vai te dar uns toques, te chamar de burra, mas vai abrir os braços pra você e depois te dar um colo. Você tem certeza que vai poder contar com ela, em qualquer momento, seja para não saber o que fazer juntas, para falar idiotices e se divertirem, ou até mesmo passar um dia de fossa ao lado de alguém que te entenda. Uma amiga-irmã é aquela que não entrou na sua vida por acaso, que com certeza faz tudo ficar mais fácil, mais alegre, mais retardado, mais divertido, menos chato. É aquela que você consegue assumir que ta desesperada, pelo menos para ficarem desesperadas juntas. É aquela amiga que vale mais que o resto do mundo, é aquela especial, é aquela que te manda calar a boca e te xinga quando você merece, é a que te repreende e a que você também repreende. É aquela que acorda muito cedo pra te receber em casa só pra ficarem juntas dividindo o tempo e a amizade, é aquela que te faz pagar mico, que canta no meio da rua com você, é aquela que dança com você em lugares inapropriados sem ter vergonha, é aquela que tira umas com a sua cara, que te faz rir das coisas mais idiotas do mundo, que repara em todo mundo com você, que come farelo de bolacha do seu cabelo e nem percebe, é aquela que dá saudade mesmo sem ver ela por um dia, é aquela amiga sem noção, mas que você ama, e que é única na sua vida.

A melhor amiga faz falta em todos os momentos, é aquela que quando a gente ta no aperto dá vontade de ligar e perguntar: “Amiga, o que é que eu faço? É que eu preciso responder logo e não sei o que dizer!”. Ela é melhor do que qualquer homem maravilhoso, é melhor do que qualquer outra menina, tem o melhor colo e os melhores conselhos, é melhor do que qualquer outra coisa no mundo. A melhor amiga, às vezes nem sabe que é a melhor amiga, mas sente, ela é especial, essencial e você nem saberia e o que fazer sem ela, ficaria como cega tateando o mundo. Ela está do seu lado, e tem ciúmes dos seus outros amigos. Mas como ela, não existe ninguém. Você, é minha melhor amiga, e é a melhor do mundo, porque só por você eu correria nua na marechal, bateria na cara daquele garoto, cortaria fora você sabe o quê de você sabe quem, por você eu largaria a Internet e o computador. Porque você, a melhor amiga do mundo, merece que eu te dê todo o mundo, apesar de nós duas não cabermos nessa imensidão de lugar, de tão grandes que somos juntas.


Clarissa M. Lamega - dedicado à Vitória K. Zarth

 
Só enquanto eu respirar. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino