quinta-feira, 29 de julho de 2010

Que brilhe, aonde estiver




O milagre que esperei, nunca me aconteceu.
Quem sabe só você pra trazer o que já é meu.
Brilha onde estiver, faz da lágrima o sangue
Que nos deixa de pé.
Brilha onde estiver-O Teatro Mágico

Se eu te disser que não tem mais nada aqui dentro, você acredita? Não, não dentro da casa, do quarto, é muito mais do que material. É bem mais fundo, compreende? É no coração, e pra enxergar o coração é preciso ter tato: chegar de mansinho, acariciando com as pontas dos dedos pra não dar medo, pra não assustar. Mas é claro que coração se assusta, como não?! O meu, por exemplo, é arisco feito bicho do mato. O que eu tava falando do vazio? Ah, é assim: tá tudo vazio por dentro. Parece que nada mais respira, nada mais palpita no peito, morreu o que vivia no coração. Tinha, tinha sim coisa viva aqui dentro. Porque se quando ele me abraçava eu perdia o rumo, se quando ele falava "amor" eu fingia que não escutava só para ele repetir "amor, amor, amor" baixinho cada vez mais perto, existia sim a tal da magia. E olha só, era até engraçado pensar que eu ia acumulando as experiências de todo o dia, mirava bem os olhos tipo máquina fotográfica só para contar para ele no fim da tarde. Só para ver se ele acharia tanta graça quanto eu achava. Se ele ria? Nem sempre, às vezes só falava "boba, só você pra rir assim de uma coisa dessas", e aí eu deixava cair a cabeça no ombro nem tão forte dele, e ria mais ainda, ria até doer a barriga. Ele ria da minha risada, e aí ficava um clima meio sem rumo no ar, a coisa mais linda do mundo, você precisava ver. Ah, sim, era bonito rir com ele, sim.
Os amigos? A gente tinha muitos amigos em comum, e quando escutávamos algum absurdo relevante de um deles eu apertava forte a mão dele, que me dava uma piscadinha disfarçada. E mesmo sem tera ver com o momento, era bom apertar aquela mão e saber que ainda estava ali, que correspondia. O que? É, eu fico meio boba mesmo de lembrar dessas coisas. É quase como crescer. Mas é claro que tem lógica nisso, sim. Vou te explicar: quando a gente é criança e cresce, dá uma saudade boa de quando era pequeno. Algumas situações deixam um buraco no peito, mas é diferente da vontade de voltar atrás. Entendeu? Não? Ele me deixou um vazio tão grande por dentro, sabe? Me deu muitas coisas, sim, mas parece que levou todo o resto e só deixou um mar de saudade e eu ilhada no meio. Voltar atrás? Não, não. É aí que entra aquela parte: eu sinto muita falta, mas com o tempo a gente aprende a identificar quando chega o fim. Eu sei que chegou, porque não pulsa mais, sabe? Fica só essa saudade-do-que-já-foi por dentro, feito bexiga cheia que só ocupa espaço com um nada feito de ar dentro. Na cabeça, no coração. Tudo bem, é difícil entender, mesmo. Se eu amei? Ah, eu amei sim! Do jeito torto mais maravilhoso que pode existir, da maneira errada que mais faz brilhar os olhos. Era torto, sim, eu sabia desde o começo que não tinha pé nem cabeça tudo aquilo, mas as coisas não precisam ter sentido pra fazer a gente feliz. Sabia disso? Pois é, as coisas que menos tem razão de ser e acontecer são as mais gostosas.
A gente era feliz, e muito. Por que acabou? Eu queria saber te responder isso, sabe. Não sei, acho que chega um ponto que as coisas tortas começam a cruzar demais os braços, bambear demais, cair muito. Tombo pode até parecer divertido no começo, faz parte. Mas depois a gente percebe que muito tombo machuca, e o que tinha graça já não tem mais. Se ainda tem magia? Tem sim, mas é uma magia que enfraquece com o passar dos dias - e a cada manhã brilha menos. É, é triste sim. Mas ainda fica aquele restinho grudado no coração, sabe? A gente assopra, mas os farelos ficam nos cantos escondidos. Se um dia passa? Acho que passa, mas fica manchado pra sempre, sabe? Mas como uma coisa bonita, uma coisa leve. Por que dói? Porque a gente sente falta do espaço vazio que fica no coração. Antes tinha tanto calor aqui dentro, tanto carinho que sumiu de hora pra outra. Mas saudade é assim mesmo: dói vezenquando. Hoje dói, sim. Dói ardido, uma mão espremendo meu coração. Vai, vai passar sim, daqui a pouco. Em breve, espero. Que o que ele tirou de mim, volte em qualquer tipo de amor por aí, em qualquer coisa corriqueira mas bonita que deixe marcas. Que conforte a mim e a ele, entende? Vou te contar uma frase do Caio Fernando Abreu, aquele que eu adoro, que resumiria tudo: "hoje existir me dói feito uma bofetada".

Clarissa M. Lamega

sexta-feira, 23 de julho de 2010

À nossa maneira



Eu já nem acho mais tão trágico, é até engraçado. Sabe aquelas coisas que de tão pisadas e judiadas chegam a dar vontade de rir? Parece mesmo é que pior do que o nosso amor está, não pode ficar.
É quase que uma pobre de uma criança pedindo esmola na rua, o coitadinho. Coração acostumado a apanhar. E eu não coloco a culpa toda em você, de jeito nenhum - cada um tem sua parcela nessa situação. Corações mendigos, acostumados a pedir, pedir, pedir - e raramente receber. Esfarrapados, sujos, famintos. Já fui tão mordiscada e tiraram tanto pedaço de mim por aí que quero que você me dê todo o amor que me foi tirado. Quem sabe até seja por isso mesmo que ainda persistimos: estamos na mesma, meu amor. Somos do mesmo tipo de gente careta que ainda acredita no amor verdadeiro, no bem, na pureza do sentimento. O mesmo tipo de gente brega que acha gostar uma coisa bonita, que não se ilude com um corpo bonito rebolando na televisão. O tipo de gente que é out, fora de moda. Quase que feitos um para o outro, se não fôssemos essas crianças sedentas que querem descontar um no outro o mal que mundo já fez pra gente. Eu não quero só o teu olhar carinhoso, tua presença sincera, eu quero devorar sua existência e ter certeza que está aqui 24 horas por dia se eu te precisar. Quero que você precise de mim como se eu fosse seu ar, e que não tenha vergonha de me dizer isso. Quero um sentimento sensato. E se ser brega significa querer andar de mãos dadas, dormir juntinhos na rede, ganhar beijo na testa, andar abraçados na rua, dividir moletom em dia frio, eu quero muito ser brega. Mas muito mesmo! E ter direito à um amor fresco, que dê beijo de esquimó e deixe dormir no colo. Um amor que ache a coisa mais linda do mundo dormir de conchinha e dividir chinelo, que não tenha nojo de dividir escova de dente. Amor que leve pra passear, que permita te abraçar e cheirar seu pescoço na fila do cinema, que deixe mais leve mas que também tenha uma pitada de tara nas horas certas. Que tenha você em cada pensamento bonito do meu dia, que me faça olhar pela janela do quarto vezenquando só para conferir se você está ali. Quero amor bobo que dê motivo pra rir de tudo, que dê vontade de fazer coisas bregas de filme como rolar na grama, que dê vontade de bater na sua porta de madrugada pra ter certeza que não estou sozinha. Sozinha nessa, na vida, no mundo. Quero um amor que me faça ter vontade de cuidar de alguém e ser cuidada, que me faça acreditar de novo. Que faça eu me sentir viva. Que seja como respirar o ar gelado de um dia muito frio, que faz a gente ter certeza que vivemos naquele instante.
Esse amor desastrado que nasceu aqui em nós é bonito demais. É egoísta, os dois lados são famintos e querem pedir sempre mais. A culpa não é nossa, porque sempre nos foi tirado então não sabemos como ter e repartir, mas tenho certeza que estamos aprendendo. É até engraçado, duas crianças que não sabem lidar com o amor. Não sabem como pegar no colo, brincar, tocar. Mas escuta, cara: nosso amor é lindo. Isso porque amor não tem vergonha, é cara-de-pau por inteiro. Amor é o que é e fim de papo, sem medo de julgamentos alheios. Simplesmente é, na cara dura. O amor não tem medo de se mostrar na rua, de exibir seus charmes e particularidades. Por isso que me orgulho desse nosso amor torto, meio careta, que ainda não sabe como dar seus passinhos. É coração mendigo, carente de afeto e que precisa de uma mão pra segurar nesses dias tão chatos. Então, sem medo de olhares alheios: vem comigo ser feliz?

Clarissa M. Lamega
P.S. Fica Dica!

Olá a todos que acompanham as postagens aqui do blog! Venho dar uma novidade de um blog saindo do forno para vocês conferirem. Eu e mais quatro amigos fundamos o PS. Fica Dica!, que faz um mix de humor, notícias e curiosidades diversas. Vale a pena checar, clicando aqui !
Como o próprio nome já diz, fica a dica de uma ótima e divertidíssima página para se esbaldar deliciosamente. Agradeço desde já, e aproveite o blog!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A noite perfeita



Dirijo o carro na chuva fina do começo da noite que, mal sabia eu, seria a melhor de todo o resto das minhas noites. Abro o porta-luvas para pegar o paninho e enxugar o vidro embaçado, enquanto vejo rolar de um montinho de bagunças aquele chaveiro cheio de penduricalhos que você guardou ali "para eu não me esquecer de você", e logo começo a rir da besteira que é você achar que eu me esqueceria de você. Olho no relógio, dez pras oito, guio até sua casa e feito adolescente permaneço batendo o pé no chão em um tique nervoso até você abrir a porta. Seguro as mãos nos bolsos pra controlar a ansiedade e não te deixar perceber que por dentro mil coisas passavam pela cabeça. Você abre a porta, me beija de leve e marca minha boca com batom recém-passado. Ainda está descalça e usa um vestido que te deixa linda, com os cabelos longos soltos cobrindo os ombros nus. Te digo como você está linda, e sinto você toda desconcertada com a minha pontualidade e seu atraso, como sempre ainda incompleta. Mas já é de costume, e eu acabo adorando a sua cara de nervosismo e pânico, sua vontade de fazer mil coisas e querer ter um encontro perfeito. Enquanto espero circulo pela casa que tem seus detalhes em cada canto e em um flash até me imagino morando ali. Rio e apago a bobeira rapidamente da cabeça, no momento exato em que te vejo vindo na minha direção. Maravilhosa, com um sorriso nos lábios desenhados à mão por Deus. Te vejo caminhando em câmera lenta, e até consigo me sentir como noivo te esperando no altar, coração palpitando frenético, seus olhos puros sorrindo para os meus. Premonição, quem sabe? Talvez, mas naquele momento te senti inteiramente minha, me senti inteiramente seu, como aquelas cenas que a gente sabe que serão importantes antes mesmo de acontecerem. É alguma coisa que marca, que muda o rumo, e que de alguma forma começa a ter muita importância na vida da gente.
A gente ria sem motivo, feito duas crianças indo para o parque de diversões. Sabe quando dá certo ser completamente feliz, sendo inteiro? Ao seu lado, naquela noite, eu sabia que isso estava acontecendo. Inédito, inexplicável. Ao entrar no carro, você imediatamente identificou o chaveiro que deixei à mostra, sorriu para mim. E eu percebi o quanto seu sorriso me revirava inteiro por dentro, fazia uma tremenda bagunça e eu já não sabia o que sentia. Mas tudo o que estava ali era bom, me dava uma calma e uma vontade de seguir adiante, entende? Tudo o que te fizesse sorrir, me faria sorrir também; tudo o que te desse brilho aos olhos, me daria um ínfimo raio de luz que ainda nascia do meio do escuro. E nessas nossas bobeiras eu te deixava me guiar pelas mãos, levando junto todo o resto do corpo e dos sentidos.
Chovia quando chegamos ao restaurante, e parei o carro em frente à entrada para você descer sem se molhar. E eu me lembro perfeitamente bem dos seus gestos ao hesitar para descer, voltar seu rosto para o meu e beijá-lo em misto de êxtase, animação e frescor, como quem agradece a um presente. Jantamos, conversamos, rimos. Havia certos momentos em que eu me desligava completamente de tudo o que me dizias, e não escutava mais nada do som que vinha de fora, só o coração acelerado por dentro. Uma bobeira inevitável crescia resultante do estado de contemplação de um sorriso seu. Os ruídos não eram mais audíveis, tudo ao redor se fazia em câmera lenta, e os seus olhos brilhavam a cada palavra sua. Eu acompanhava com o olhar uma mecha de cabelo sua que escorria diante dos olhos e suas mãos pequenas que logo a colocavam em seu lugar, e seus risos que me despertavam me deixavam ainda mais maluco. Naquele instante eu faria tudo pra que sua risada não se perdesse, eu poderia até começar a fazer palhaçadas e contar aquelas minhas piadas sem graça mas que nós rimos por serem tão desastrosas, só para não deixar vazar o encanto daquele momento. Eu poderia varar a noite ali sentado só pra te ouvir falar daquele sonho seu em que você despencava em uma piscina de pipocas coloridas, ou da vez em que o cachorro derrubou aquela sua tia mesquinha na terra. Só pra segurar um pouquinho mais a sua risada. E se você quisesse, poderia até contar a mesma história três vezes seguidas, porque eu não ia enjoar de te ver rindo toda boba feito criança arteira.
Depois, sem hesitar, você me falou: "vamos embora?" com a expressão suspeita de quem tem tudo planejado, então saímos. "Como não ir?", eu queria perguntar. E como te deixar sair sem me levar junto, se a cada vez que se abria aquela covinha no seu sorriso a minha vontade era me jogar e me deixar ficar para sempre afundado nela? Como não te seguir aonde você quisesse ir, se a cada vez que sua mão delicada segurava a minha eu me sentia mais forte? Como, meu Deus, não me deixar ser levado por essa mulher que tem o mais bonito sorriso arrasa-quarteirão? Me explica como não ter deixado que você planejasse comigo nossos dias a partir dali. Comecei a andar para perto do carro, e você logo me puxou dizendo que seria um desperdício jogar fora uma noite bonita daquelas. Estendi minha mão para segurar desajeitado seus dedos delicados entrelaçados aos meus. Justo os meus, que não tinham tato, tão desacostumados com outros dedos para proteger e guardar: foram os meus dedos que firmaram os teus. Andamos um pouco debaixo de um tapete de estrelas, mas logo começou a chover. Tirei meu casaco, como um bom cavalheiro, para te esconder da chuva, mas você escapou de debaixo do casaco e começou a rir. Eu não entendi mais nada, e cada vez mais as gotas escorriam pelo seu cabelo, borravam sua maquiagem, encharcavam sua roupa, e você me puxava para dançar enquanto cantava "singing in the rain" como louca no meio de uma praça. Me divertia pelo simples fato de te ver cantando e pulando sem importar-se com quem estaria olhando ou o que estaria achando. Me contagiou com seus olhos brilhantes mais uma vez, e lá estávamos os dois chutando poças de água e girando na chuva sem entender nada. Eu não queria estar com mais ninguém, em nenhum outro lugar do planeta. Estava sendo feliz e vendo chover amor pela primeira vez na vida. Rimos até cansar, quando olhei para seu rosto com os cabelos escorridos e uma gota de água que pulava naquele exato momento da covinha do seu sorriso. E eu posso te jurar que a minha vontade era te pedir em casamento ali mesmo, ajoelhado em meio às poças de água. Feito noiva, te pegar no colo e saber que dali em diante serias meu tesouro, meu bem, meu amuleto.
Depois de fazer a coisa mais maluca da minha vida toda, depois de saber que você deixaria viver ser mais bonito, nos escondemos debaixo da Catedral da Praça Tiradentes. Olhei para seu rosto de contornos leves, todo, todo molhado e comecei a rir. Rir do nada e do tudo; do tudo que foi ter a certeza que era você. Você quem eu esperava por esses anos todos, você quem eu queria e que de certa forma me esperava também, você quem fazia aquele bolo com calda de chocolate e sempre lambuzava meu rosto, que deixava bilhetinho escondido no bolso do meu casaco, que andava com as minhas blusas fazendo graça. Você quem me faria rir escutando pela milésima vez aquela piada, e que teria a audácia de tirar um sarrinho de mim e me deixar mais leve depois de um dia difícil. Eu sabia que seria você, naquele instante em que rimos de tomar chuva e que senti seu perfume molhado mais forte em mim, em que te cobri com minha jaqueta aos pés de Deus naquela igreja. Dessa vez soava mais forte a minha certeza, concebida pelo "casa comigo?" no seu ouvido. Nos meus braços eu te cuidava, escutava sua resposta sim e me apaixonava pelos seus olhos, tudo ao mesmo tempo. Sem anel, nem jantar de noivado, nem padre, nos pertencemos ali mesmo quando você aceitou ser minha. Doei o resto dos meus dias dos próximos 25 anos para te fazer feliz, para rir e aprender a viver com você. E hoje, minha querida, ainda és minha pequena da mesma maneira como naquela noite, há anos atrás. E eu tive certeza absoluta, que eram os seus dedos finos que deveriam guiar os meus desajeitos.

PS. Obrigado por me deixar morar nas covinhas do seu sorriso, é o melhor lugar do mundo para se estar.
Do seu, sempre seu.


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Clarissa M. Lamega
"E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você."

Tati Bernardi

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Longe de você eu enlouqueço um pouco mais



Ao som de Longe de Você - Charlie Brown Jr


Se a cada cinco minutos com você a única coisa que eu mais quero são mais cinco minutos, me explica como você pode ir embora e me deixar assim. Se a cada vez que passa a mão de leve nos pelinhos do meu braço só para vê-los arrepiados eu sinto Deus sorrir, me explica como deixar o tempo te levar de mim. São só coisas duras espalhadas por aí, coisas pontudas e sem cor que machucam, mas me deixa te cuidar. Tudo é tão extremo - mata ou salva - que ainda não aprendemos a lidar com algo que pode sangrar ferozmente como também encher de graças e aleluias ao mesmo tempo. Machuca sim, mas não mata. Ainda não deu tempo de o sol nascer, da luz nos aconchegar, e é preciso calma depois da noite escura para nos enxergarmos como realmente somos. Só preciso te mostrar o melhor que eu posso ser, então fique.
Quero mais tua boca macia na minha pele, quero mais dedos entrelaçados e conversas na varanda enquanto o fim da tarde deixa aquela brisa geladinha invadir a casa. Quero esquecer de propósito minha blusa em casa só para passear por aí com a sua e me agarrar no cheirinho do seu perfume, te encontrar a cada vez como a última chance de me arrancar uma réstia de sorriso nesse tempo tão monótono e triste. Não, não tenha medo de mergulhar na profundidade que somos nós e que eu também não conheço por enquanto, mas me deixe te levar. Não sei nadar ainda, assim como você, mas com você eu não tenho medo de afundar. Porque você é capaz de me salvar só com um olhar compreensivo quando as coisas vão mal, e segura forte a minha mão como se eu deixasse de despencar de um abismo só porque sua mão grande estivesse agarrada firme à minha. E aí eu já não tenho mais medo de cair. E se eu te ligo várias vezes no dia, e se a cada vez que ligo não consigo suportar a demora para atender, é porque preciso escutar a sua voz totalmente segura pra me dar um chão quando tudo parece desabar. Eu sei que é meio individualista isso, mas eu preciso que você me segure ou me dê um chacoalhão pra despirar um pouco a cabeça, e é por pura necessidade de quem precisa e só pode dar amor em troca. Preciso tanto te cuidar para garantir à mim mesma que estou no caminho certo e que o seu carinho não passa batido, preciso passar a mão no seu cabelo como se você ainda fosse um menino. Preciso me sentir viva e isso é coisa que só você conseguiu até hoje, então por favor, don't go away. Parece até que você é o meu ar, que controla meu coração de alguma maneira bizarra ou sei lá, só sei que longe de você eu enlouqueço um pouco mais e preciso me agarrar aos seus dedos para não cair.
Eu sei que essa necessidade toda é assustadora, mas a mais assustada da história sou eu por sentir que não consigo mais ser independente em nada. Não sei agir dessa maneira, não sei não ter controle e só sinto que tenho um pouco de paz quando visto a sua blusa ou sinto a ponta dos seus dedos nos meus braços. Ou quando você chega silencioso e me abraça forte como se entendesse a necessidade do silêncio naquele momento e conseguisse resumir tudo naquele abraço. Como se você tivesse o poder de puxar para si todas as coisas pontudas que doem de dentro de mim me envolvendo nos seus braços. E aí o mundo inteiro pode acabar, a Terceira Guerra Mundial pode começar, um vendaval pode levar nossa varanda que eu não ligo. E me sinto segura, me sinto bem, como se seus braços pudessem me proteger de tudo o que existe - dentro e fora da minha cabeça. Não vá embora. Estou aqui como criança indefesa que pede humilde um carinho um colo ou qualquer coisa que ofereça calor - então fique só mais cinco minutos. E daqui a cinco minutos, te pedirei só mais cinco.


Clarissa Mascote Lamega
 
Só enquanto eu respirar. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino