domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ninguém te ama como eu



Eu não sabia de onde brotara aquela vontade imensa sem nenhuma explicação racional, apenas estava eu ali de pé mas com todos os motivos para estar de joelhos. Olhava para aquele rosto simples e de olhos bonsosos que se dirigiam aos meus, e cantava em coro com todas aquelas outras pessoas: "Piedade Senhor, piedade Senhor, piedade de mim", sentindo o real peso de cada uma daquelas palavras como pedras lançadas no meu peito. Eu ali, naquela igreja, pedindo perdão para o homem mais santo do mundo. Eu, uma simples garota que tanto erra e falha diante do maior homem que já existiu no mundo. Contive minhas lágrimas e minha vontade de me ajoelhar diante da imagem de Jesus, e pedia que saísse de mim todo o peso dos meus erros que me trancava a garganta e me fazia querer mudar completamente. Tive fé. Acreditei que aqueles olhos de quem tanto sofrera entenderia o que eu sofri. É difícil falar de Deus em um mundo aonde o principal interesse é o dinheiro. Ter fé pode ser considerado ser corajoso demais. Falar do que realmente importa pode ser perigoso. Perigoso para uma vida social e para ganhar adjetivos como "careta" ou "fanático religioso". Mas, é preciso falar a verdade dentre todas as complicações de se ter fé nesse cara que mora lá em cima: a partir do momento em que você realmente o conhece, em que você retribui uma pequena parcela do amor que ele tem por você, você nunca mais será o mesmo. Um momento com a cabeça longe do mundo, um instante focado apenas em Jesus, e sua vida toda pode mudar, basta dar essa chance à Ele. Esqueça de tudo, esqueça dos problemas, concentre seus pensamentos em entender tudo o que Deus faz na sua vida e todas as coisas boas que ele já te deu. Você passa a valorizar pequenas coisas, momentos em família, seus pais, sua família, o prazer de ter amigos, ou uma comida na mesa e cama quentinha pra dormir. Tudo vem aos poucos, Deus sabe que a gente não aguenta um baque de uma vez só; a simplicidade e humildade demoram a crescer no peito da gente e exigem um árduo cultivo. Faz-se necessário aceitar, ajudar, compreender e a tarefa que é a mais importante, e que é a mais bonita que Deus poderia nos dar: AMAR. Amar com todas as letras, amar com o coração e a alma, amar com tudo dentro e de trás pra frente. Como amar? Simples: um abraço, uma palavra amiga, uma ajuda, um carinho. Para amar é necessário se doar, um pedacinho nosso em cada gesto de amor. Porém, ao contrário da maioria das doações, esta não nos faz faltar nada: acumula tudo em dobro dentro do peito da gente. Há um tempo eu havia deixado de lado Jesus, Deus, igreja, e mudei minha cabeça pro mundo. Parei de pensar nisso tudo e apenas deixei ser, me tornei 'normal'. Acontece que ser normal é a coisa mais babaca que poderia acontecer, ser comum é não ser. Então lá estava eu, parada naquela igreja, cantando com um aperto no peito, pedindo perdão com a maior humildade que a minha humanidade poderia oferecer. Descobri o amor daquele que mais me amou no mundo todo, que mais me ama e que sempre vai estar de braços abertos para mim. Não importa o quanto eu erre, todos os dias Jesus estará me esperando de braços abertos, esperando pelo NOSSO momento, que ninguém tira. E isso me move, me cativa, me transforma. Porque, afinal, quantas pessoas que você conhece morreriam numa cruz por você? Aceitariam morrer sofrendo por cada segundo pra que você vivesse? Eu só conheço esse cara, o mais maneiro e amoroso do mundo, que só espera pela inha resposta dia após dia. O único pedido d'Ele, afinal, é que eu mostre um pouco do seu amor pro mundo, então aqui estou eu. Estou enfrentando críticas, apelidinhos bestas, tapas na cara e ofensas, pela minha fé e pelo que eu acredito de verdade. Num mundo consumista, onde a marca que você usa importa mais do que quem você é, eu defendo com unhas e dentes o que realmente importa: o amor de Deus em mim, que está também em você.

Clarissa M. Lamega
"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

Caio Fernando Abreu


"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

Fernando Pessoa
"Mas sou atrevida por natureza e adepta da frase de Nietzsche: 'Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia'. Ai, Nietzsche você sempre soube! É isso mesmo. Eu odeio e assino embaixo. E odeio com todas as forças, com todas as letras, em capslock, de trás para frente, em inglês ou latim. EU ODEIO. Sou uma ótima companhia para mim mesmo, adoro ficar sozinha, lendo, escrevendo ou fazendo o meu nada. Prefiro me afundar em mim a ter que ouvir gente falando merda ou contando vantagem."

Fernanda Mello

sábado, 27 de fevereiro de 2010


Q
uero te expelir de mim. Quero te jogar no mundo, te vomitar todo sem ficar com nenhuma parte sua aqui dentro. Quero que você vá embora agora, quero que você saia por essa porta. Porque agora eu já me abasteci dos teus charmes e erros e do cheiro de shampoo no seu cabelo, e já passei a mão na sua nuca, já beijei com verocidade sua boca repleta de mentiras e desapegos, já te engoli inteiro dentro de mim. Te cheirei profundamente como se conseguisse me drogar do seu perfume, te mordi em pedacinhos e te arranquei sorrisos que derretiam meus ouvidos. Te peguei, te possuí, me abasteci, me preenchi por todos os cantos de você e te enchi dos meus mais suculentos ardores. Me droguei de você.
Mas vá embora agora, porque te sinto pulsando em todas as partes do meu corpo e acho que estou ficando maluca. Seu efeito em mim é muito mais do que alucinógeno e realmente me faz passar mal. Me deixa com o gosto dos seus beijos mal resolvidos querendo se apagar dos meus lábios, confunde meus sentidos e me deixa tonta, me faz querer te jogar pra fora de mim. Minha abstinência já passou, pode ir embora agora. Mas peço ferozmente, como quem gosta de brincar com fogo, outra dose de você mais tarde.

Clarissa M. Lamega




"Aí eu tomo um banho bem quente, pra te espantar da minha pele. E canto bem alto, pra te espantar da minha alma. E escovo minha língua bem forte, pra separar seu gosto do meu. E quase vomito, pra parir você do meu fígado. E tento ser prática e parar de suspirar. E tento abrir a geladeira sem me perguntar o que eu poderia comprar pra te agradar. E tento me vestir sem carregar a esperança de esbarrar com você por aí. E tento ouvir uma música sem lembrar que você gosta de se esfregar de lado em mim. E tento colocar uma simples calcinha e não uma bala perdida pronta pra acertar você. E tento ser só eu, simplesmente eu, novamente, sem esse morador pentelho que resolveu acampar em mim. E nada disso adianta. E o esforço pra não fazer nada disso já é fazer tudo isso."


Tati Bernardi



"...A vida é complicada porque nós mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo, ou justamente o que não deveríamos, a gente faz planos mesmo em cima dos silêncios deles, a gente vê beleza em cada sumiço, a gente vê olhares de amor no mais puro olhar de tesão, nós temos a mente completamente diferente da deles. Não precisa procurar no meio da multidão, coisas acontecem quando você desiste de procura-lás, posso me aproximar sem invadir seu espaço, mas posso me aproximar tanto que seja impossivel de não o invadir. Não há como garantir que não possa me esforçar em ser interessante sendo que o que eu quero é ser o melhor que você merece. E de tudo que posso ser pra você eu só pediria que nunca fugisse de mim, nem mesmo quando por alguma razão eu deixasse a máscara cair, eu irei segurar sua mão como quem segura a mão de alguém que esteja pendurado sobre um barranco. E seguirei por dias, semanas, meses tentando tocar o seu coração até que um dia eu consiga. E de nenhuma forma te prender, mas sentir medo de te perder, e jamais te limitar mas chorar quando decidir ir embora, e esperar suas mudanças naturalmente sem forçar você, roubar mil beijos seus quando você decidir ter alguma crise de raiva, tentar te acalmar e ser incapaz de causar algum sofrimento a você. E eu não somente diria que canta mal como cantaria com você, provando assim que existem pessoas que cantam horrivelmente, e que você não é a única, mas a que eu estaria disposta a escutar, e quando você decidir falar demais, que eu debrusse sua cabeça no meu ombro e escute tudo que tem a dizer, e quando for desastrado que haja fôlego para não morrermos de tanto rir. E que você sinta vontade de precisar de mim, mas não só quando houver necessidade, que você sinta isso mesmo tendo passado um dia inteiro comigo, que não veja e nem sinta as horas passando quando estiver ao meu lado, e que nunca seja o suficiente o tempo que passarmos juntos, que você sempre sinta vontade de mais, mais e mais. E que você suporte os meus defeitos e se sinta orgulhoso das minhas qualidades, e apesar de não ter uma beleza extrema, poder fazer com que você enxergue que gostar de alguém vai muito além de beleza fisica, e tentar também de algum jeito (infelizmente só tentar) fazer com que você não precise olhar em outras direções, porque seus olhos vão estar dentro dos meus. Eu quero sempre encontrar você, sejá lá aonde você estiver, e que eu consiga ser o seu perfeito, mesmo sendo imperfeito."


Tati Bernardi




TOQUE DE REALIDADE

E hoje, finalmente, eu senti aquela raiva destruidora que eu estava esperando e que não chegava nunca, nunca. E sem aviso, começou a se espalhar por todo o meu corpo, me lembrando aqueles arrepios que aconteciam quando eu pensava em você. Mas dessa vez era diferente, era REALIDADE, meu bem. A garotinha tola que você pensava que eu era se revelou uma grande mulher, exatamente do jeitinho que eu sou.

Então eu comecei a pensar como você sempre foi um tanto idiota, com toda essa pose de bonito, inteligente e maioral. E como eu sempre sustentei essa ilusão de que você era superior, somente pra ganhar mais um ‘eu te amo’ e mais uma noite sem brigas. Pensei em como eu sempre fui mais madura enquanto agüentava suas birras de muleque para dar mais uma chance pra gente, numa vontade de ranger os dentes de fazer birra também, só pra ver sua cara de panaca irritado.

Eu sempre preferi dar mais uma chance pra gente em vez de dar mais uma chance pra mim, sempre preferi ser uma idiota feliz do que uma autêntica sensata orgulhosa e solitária. E nesse toque de realidade me bateu hoje a sensação de como eu fui idiota de deixar as coisas chegarem nesse ponto. Eu corri tanto atrás de você, atrás de migalhas que você me deixava, eu quis tanto ser feliz que não tive tempo de parar e perceber que eu já era feliz. E olha que nem era por sua causa.

Enquanto você saía à noite pra se divertir, eu ficava em casa pensando numa maneira de te trazer de volta pra mim, sem nem ao menos cair na real de que esse não era meu papel e nem minha vez de entrar em cena. Eu pensei que o papel da idiota feliz que eu gostava de representar me fazia realmente feliz. Pensei que eu chegaria além, que nós dois chegaríamos ao nosso canto juntos. Acontece que eu te dei tudo, te dei o maior e melhor amor que eu já tive, novinho, limpo e pleno, te dei minha felicidade, minha solidão, minhas horas livres, te dei as chaves pra entrar na minha vida, te dei um espacinho no meu coração e na minha correria, te dei um sonho, te dei um motivo pra sorrir, uma chance de mostrar que você era o cara legal que eu tava esperando por toda a minha vida. E eu queria realmente que você fosse essa cara.

Você me fez muito feliz, mas ao mesmo tempo isso me causou muitas tristezas, angústias, noites sem dormir e dores de cabeça. Mas os pequenos instantes de alegria valeram a pena pelos dias de tristeza. Como nas vezes que você falava uma bobeira inusitada pra me fazer rir (o que sempre dava certo), ou quando você me lembrava como era gigantesco o nosso amor, como tudo valia a pena, quando fazíamos planos malucos pro nosso futuro, quando você me dizia todas aquelas coisas fofas e sinceras, quando você me fazia sentir especial mesmo quando eu me achava a pior mulher do mundo. Só você sabe o que eu sinto lá no fundinho, mesmo que não me diga, eu sei que você aprendeu a me decifrar como ninguém. Você sabia o que eu gostava de ouvir, sabia quando eu estava fazendo manha ou quando estava irritada. Sabia também o quanto eu me preocupava com você, mas você gostava de ser livre, não queria o peso das cobranças e das responsabilidades de um relacionamento.

Como eu sabia que um dia aconteceria, você não agüentou carregar todo esse peso, mesmo que eu carregasse a sua parte por muitas vezes no nosso caminho, mesmo que eu te desse tempo pra descansar, mesmo que eu consentisse sabendo que isso não estava no script. Você sabia o que fazer e como fazer pra sermos felizes juntos, mas talvez desse muito trabalho pra quem não estava acostumado a se dedicar tanto. Talvez naquela hora você não soubesse, mas estávamos a um pequeno passo de fazer tudo valer a pena, de colocar em prática nosso plano, estava chegando naquela cena que se chama ‘hora de ser feliz’ em que nós fazíamos os papéis principais. Você desistiu antes de sentir o primeiro sinal de felicidade leve e simples que estava prestes a tocar seu rosto.

Talvez fosse mesmo mais cômodo ser feliz no seu cantinho, com seus amigos bacanas e aquelas meninas gostosas e sem cérebro que não servem pra uma vida toda, mas que quebram o galho por uns dias, e logo depois são substituídas por outras do mesmo nível. Saiba que essa felicidade que você sente aí sem precisar fazer muito esforço eu multiplicaria por nossa vida inteira, e seria tanta que daria pra nós dois e pros nossos filhos e pros nossos netos e pros nossos amigos e pro nosso casamento. Eu só pedia em troca o que eu precisava, só pedia você. Só pedia que você se doasse, se deixasse chegar até mim, só pedia um pouco de atenção e tudo o que você era. O que você era já me bastava, me preenchia sem esforço. E por mais que você me amasse, acho que você pensou que seria arriscado demais deixar um pedacinho seu comigo, achou muito perigoso viver dentro de mim, ser comigo, iniciar um vínculo maior ainda. Você percebeu que o túnel era escuro e longo e teve medo de adentrar, de se perder, mesmo segurando na minha mão. Você sentiu o perigo, mas, ao contrário de mim, teve medo de sentir essa dorzinha, mesmo tendo uma grande recompensa no final.

E então, hoje, eu percebi como eu fui idiota de fazer todo o seu papel e o meu ao mesmo tempo, e ainda sair na merda. Hoje eu percebi como, apesar de não ter você por completo, eu conseguia ser completamente feliz. Isso porque hoje eu não tenho nem um pouquinho de você e sou completamente feliz, embora saiba que no fundo você quer ser meu pra sempre.


Clarissa M. Lamega

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



"Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.Dilacerando felicidades de mentira,desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto.É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos,ilumina o corredor por onde passo todos os dias."

Caio Fernando Abreu

"Eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder me livrar do prático efeito: das tuas frases feitas, das tuas perfeitas!"


Cazuza

A grande falta



Uffa! Finalmente aquele bichinho incômodo que você deixou agarrado em mim sumiu. Foi aos poucos aparecendo cada vez menos, visitando menos vezes ao dia, foi me deixando sozinha de madrugada e parou de aparecer repentinamente. É, ele era realmente insuportável, me pegava desprevenida, me fazia sentir enjôos, náuseas, saudades, tristeza. Me acostumei até, porque o bichinho me lembrava também o quão bom era amar você, me lembrava de tudo o que você me dizia, me acostumei com a sua presença. Ele me alertava bem baixinho de que você poderia estar me olhando na rua sem eu nem perceber, e esperançosa, me arrumava e te procurava discretamente.

Foi embora, foi sumindo, desapareceu. O amor enorme que eu queria tanto te dar, aos poucos também foi sumindo. Ahh! Que bom é não sofrer mais por amor, não ter crises de desespero no meio da noite, no meio de uma festa, no meio da vida! Que delícia não me preocupar toda hora se você está bem, se pensa em mim, não ter abstinência de você. Realmente aliviante. Agora eu posso pensar um pouco mais em mim, no que eu quero pra mim, na minha vida. Maravilhoso ser solteira, sair e se divertir, paquerar uns gatos por aí, beijar na boca de quem eu estiver afim. Uma delícia! Mas assim os dias foram passando, e eu amando não sentir sua falta, adorando essa vidinha boa sendo independente de você. Um dia desses, senti algo preocupante: tem alguma coisa faltando aqui dentro. Conferi tudo o que eu precisava, tava tudo ali no seu lugar. E esse vazio foi apertando, e eu fui me sentindo incompleta.

Me peguei sentindo falta daquele bichinho. Até que ele era legalzinho, me fazia viver preocupada com mais alguém além de mim. Eu já sabia o que eu queria pra minha vida e pra mim, mas eu queria dividir isso com alguém. Eu sei que antes o que eu mais queria era me ver livre dessa responsabilidade de ter alguém e ser de alguém mutuamente. Cansa, faz delirar, ter crises de choro. Mas ao mesmo tempo, não pode haver sensação mais compensadora na vida. Fazer alguém feliz, querer gritar pra todo mundo que ama, tomar conta de alguém, sonhar juntos, planejar juntos. É tão difícil se sentir completa estando sozinha! Falta sempre alguém pra elogiar, pra cuidar, pra dividir tudo na vida. Falta sempre alguém pra não ficar sozinha fazendo nada. Antes eu sentia solidão, mas eu tinha pra quem contar isso depois. E agora, quem quer saber o que eu sinto? Ei, to doando meu coração por um pouco de amor e atenção, ta afim? E você, quer ser meu? Prometo que vou cuidar bem de você, que não vou reclamar de tudo, que seremos felizes! Ahhh, entendi... pareço maluca demais, não é? Mas na verdade é o que toda mulher sozinha quer ter.

Tá bom, eu já curti a solteirice, já beijei muito, já aproveitei as festas, agora será que alguém pode me dar um colo e falar palavras bonitas no pé do ouvido? Será que alguém se interessa no tipo carinhosa romântica? Até agora não apareceu ninguém. E eu que estava achando que ia amar essa vida de solteira, agora tenho receios de dizer que gosto. Porque no fim das contas, é tão bom sair tendo pra quem voltar; tão bom sofrer sabendo que vai ganhar um mundo de felicidade depois; tão simples sonhar tendo alguém pra ajudar a alcançar o sonho. É maravilhoso poder falar que é de uma pessoa, e essa pessoa é sua, de mais ninguém. A solidão parece muito mais dura quando se sabe que se está realmente sozinha. Agora eu posso sair quanto quiser, beijar quantas bocas forem, nada vai tirar essa falta de um amor daqui. É uma saudade muito estranha a de estar apaixonada, porque eu sempre lembro a parte gostosa de ter um amor. E então eu penso que afinal, era mais feliz naquela vidinha turbulenta. Apesar das cobranças, satisfações a dar, broncas, ciúmes, faz falta ter uma pessoa que se preocupe e se interesse pela sua vida, que queira te ver bem.

Ah não! Não acredito que sinto tanta falta de um amor! Nunca se está satisfeito mesmo. Agora estou abrindo todas as portas e janelas do meu coração na esperança de que alguém aceite tomar um café ali, bater um papo, continuar visitando até morar ali dentro. Nunca pensei que fosse querer tanto que alguém morasse no meu coração e tomasse conta de todos os espaços vazios. Assim pelo menos eu ficaria cheia, não sentiria tanta falta de amor. Sei que depois estarei implorando pra voltar a ter aquele vazio, mas o que interessa é que agora isso é muito torturador. Volta, bichinho, sinto tantas saudades de você. Volte pra me lembrar daquela pessoa toda hora, pra me acordar com a preocupação dela estar bem, não me deixe dormir pensando neuroticamente nos nossos planos. Volte e encha minha cabeça de sentimentos misturados, de dúvidas infinitas, encha meu coração de saudade e amor. Volte pra me deixar maluca, se esconda aqui dentro de mim, vai. Volte pra eu ter certeza de que alguém estará sempre de braços e coração abertos pra mim. Olha, se você não voltar, eu posso ficar doente, viu? E a culpa será sua.

Tudo certo, eu ficarei bem. Sempre fui sozinha e feliz, não é mesmo? Mas, por desencargo de consciência, vou destrancar a porta só pra ver se alguém entra.


Clarissa M. Lamega

domingo, 21 de fevereiro de 2010




"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo."


Clarice Lispector



"Olha, sabe duma coisa que eu aprendi? O segredo do belo está aqui, oh. Na sua cuca, no seu olho que realmente vê, dentro de você."


Caio Fernando Abreu



"Love apesar, a pesar e há pesar."


Caio Fernando Abreu

sábado, 20 de fevereiro de 2010


REPARE EM MIM


Eu sei que tudo o que planejamos não deu muito certo, e sei também que parte disso foi culpa minha. Mas eu quero te mostrar que nem tudo tá perdido, e que eu ainda tô aqui, levíssima sonhando com a sua volta. Olhe pra mim, veja que eu nem to fazendo tudo aquilo que te irrita tanto, tudo o que faz você brigar comigo. Olhe pra mim e veja tudo o que eu to fazendo esperando que você note, cada vez que eu me arrumo um pouco mais e lembro como você gosta do meu cabelo solto, cada vez que eu controlo meus ciúmes, cada vez que eu arrumo minha cama e meu quarto, porque você me achava desorganizada.

Eu queria que você notasse como eu estou tentando beber menos, como eu estou tentando fazer mais vezes o café da manhã que você gostava de comer, pra descobrir como deixar tudo perfeito pra sua volta. Veja como eu evito chorar, porque você não gostava de me ver triste, veja como eu estou evitando olhar pra outros homens e rezando pra você perceber isso. Mas você finge que está bem, que não sente falta de andar de mãos dadas comigo e de deitar no meu colo deixando o tempo passar. Afinal, você é tão forte e macho pra sentir saudades! Você quer ser tão macho, que quando consegue sê-lo sente minha falta. Eu sei disso, não precisa mentir pra mim.

Não tente mentir pra mim, se lembre que no fundo sou EU que conheço todos os seus traços e seu jeito, eu que conheço o formato e tamanho da sua mão e de seus dedos, eu que conheço a curvinha do seu maxilar bem pertinho da orelha, eu sei descrever seus olhos desde os cílios até o que eles diziam pra mim. Eu conheço seu jeito de andar e o jeito como você sorri, e eu sei como você age quando é você mesmo ali comigo. Sei principalmente que não é tão macho e forte quanto quer ser.

E se você quer saber mesmo, eu te amo quando você brinca, quando você quer pegar na minha mão, quando você chora na minha frente e quando você é você mesmo. Eu te amo quando você insiste em discordar só pra ver minha cara de irritada, e quando logo depois vem pertinho de mim pedindo desculpas. E eu nunca conseguia dizer não. Eu te amo quando você se arrepende, quando você finge não estar nem aí, quando você contorna as linhas da minha mão, quando você beija a minha testa e quando você chega de mansinho todo cheio de amor e carinho. Eu te amo quando você esquece que tem um saco no meio das pernas e lembra que tem um coração, e que tem também o meu coração.

Repare, pelo menos de canto de olho, pelo menos fingindo que não repara, mas repare como eu tô tentando ser menos menina e mais mulher por você, como eu tô baixando minha bola e sorrindo mais, sonhando mais, me aperfeiçoando mais, odiando menos, gritando menos, pirando menos, me acalmando mais. Tudo por você, tudo o que eu não faria por mais ninguém nesse mundo. Repara como eu to sendo menos preguiçosa só porque você dizia que eu não fazia nada, como eu to sendo menos ciumenta porque você dizia que um dia eu ainda ia fazer a gente terminar. Repara como eu to fingindo que não reparo a sua falta.

Olha como eu to aprendendo a ler mais, sair mais, viver mais, tudo pra ocupar esse espaço vazio que você deixou em mim quando se foi, tudo pra tentar encaixar qualquer coisa nesse buraco que você abriu. Tudo pra tentar sempre inutilmente recolher um sorriso seu, um olhar curioso meio disfarçado, um sinal de saudade qualquer, meio escondido, reprimido ou fugitivo. Repare como eu reparo, que igual ao nosso amor nunca encontraremos igual, e que o nosso tempo é este. E eu queria poder ordenar que você jamais me perca, jamais me deixe voar pelo mundo, ainda que voando pelo mundo eu sempre esbarre em você no meio do caminho. Esperando infinitamente, assim como eu, para trilharmos o nosso caminho juntos.



Clarissa M. Lamega

Seu rosto tem o gosto meu

Eu sinto falta de uma mão pra apertar, sabe? Não peço mais do que um ombro largo para apoiar a cabeça e braços que me apertem como um imenso laço e terminem enroscados na ponta dos meus dedos. E passar horas e horas assim: só no nosso cantinho pra tirar um pouco a cabeça do mundo. No ritmo do mundo, do semáforo aberto que faz pulsarem os carros, do escritório, do documento atrasado, da hora marcada, eu adoro perder a hora com a cabeça enconstada no seu peito. E seguindo apenas o ritmo do seu coração pulsando. Nada de carros, papéis atrasados ou tempo; e me perco e me embalo e fecho os meus olhos e escuto o "tum tum, tum tum". Forte. É a única força que acaba com o peso do dia, e de uma quarta-feira enjoativa e apressada. Por um instante, é eu e você, tudo borrado pros lados, pro meio, pra cima e pra baixo, tudo vazio e sem sentido. O que importa é saber que seu coração tá forte por mim, que ele bate ritmado e grande para que continuemos apertados um contra o outro. Nós contra o mundo.
E de olhos fechados, sinto o calor do seu peito me deixando leve, seu braço que escorre seguro ao longo do meu inteirinho, até o finzinho, seus dedos que acariciam as costas da minha mão como se fosse a tarefa mais importante e bonita que poderia existir. Me entrego ao seu ombro largo feito pra uma cabeça lotada dos problemas dos últimos dias, que saem voando sem dar satisfações quando sentem sua grandeza de homem. Assim, com a cabeça inclinada, sinto um suavíssimo e delicado beijo dado com carinho e total atenção na minha testa, um beijo demorado e uma mão grande e desastrada de homem que assume sua forma mais sutil ao tentar recolocar uma mecha de cabelo fugitiva atrás da minha orelha.
Nós somos fortes e grandes assim, e temos o melhor dos sentimentos ao nosso favor. Escuto sua respiração calma e tenho certeza absoluta que te tenho todo pra mim naquele instante. E espio por um olho, vejo seu rosto tão sereno desejando apenas continuar ali por mais um tempo, ao mesmo tempo em que meu corpo e minha alma querem te devorar e tirar um pedaço e guardar dentro de mim. Quero um pedaço disso que eu não sei o que é, mas que parece tão bonito quando você me dá. A melhor parte do meu dia, ninguém pode roubar. Eu passo meus dedos entre os seus cabelos de anjo e beijo a sua buchecha com aquela sua barba que eu tanto gosto e que me espeta, e quero te roubar só mais um pouquinho pra mim. Passo meus dedos finos fazendo o contorno por entre os seus, e quero que o amor nunca acabe. Somo nós, ali, contra o mundo. Mas agora deixa só eu encostar mais um pouquinho no fortinho do seu peito.

Clarissa M. Lamega

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010




"Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui."
Caio Fernando Abreu



" E ele um pouco emocionado me respondeu:

- Eu gosto do seu coração!
- Por quê?
- Porque é doce. "

Clarice Lispector


"Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder."


Tati Bernardi



"Eu tô sempre indo embora, mas aí vai um super clichê: é de tanto que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre louca, ainda que eu seja."


Tati Bernardi

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


É, esse é meu jeito. Eu tenho mesmo esse poder perigoso de meter medo nas pessoas com apenas um olhar, de tocar no mais fundo dos seus segredos quando meus olhos triunfantes atingem em cheio os seus. Como um franco-atirador parado na janela de frente pra sua sacada. Apenas um olhar profundo, calado e sincero, e sou capaz de desnudar todas as suas defesas. É um golpe certeiro. Talvez o meu mais ínfimo segredo seja de que meus olhos não captam mais do que gestos e expressões, que eu não sou capaz de ler a sua mente, como você costuma reproduzir na maneira como cagueja quase que instantaneamente e acaba com suas mãos desnorteadas. Como uma caçadora, miro minha arma em direção à sua alma. Tenho o poder de te desconcertar, te agredir, acabar com todos os seus segredos. Pelo menos, é o que sua pobre insegurança demonstra ao ser vítima da minha menina dos olhos. E a grande questão é: não faço mais do que pensar quando olho profundo pra ti. Não tento decifrar teus pensamentos nem desmascarar tuas ações, mesmo sabendo que posso. O que me intriga, é que sabendo de toda a minha habilidade de te intimidar, a única coisa que eu pretendo quando meu olhar de franco-atiradora busca teu olhar inocente, é um pedaço da sua paz nos meus dias. Quero apenas viajar por dentro dos seus gostos e de todo o seu amor, quero a tranqüilidade imensa que você é capaz de me dar, sem ter que usar armas para conseguir isso.

Clarissa M. Lamega

domingo, 14 de fevereiro de 2010







"Até hoje não diferencio os cogumelos venenosos dos sadios. Como descobrir o que mata sem morrer um pouco por vez?"

Fabrício Carpinejar




"- Desejo passar o resto da minha vida com você.
- Não, uma vida com você nunca será resto."

Fabrício Carpinejar

Sou tão perto de você


Vai lá, é a sua vez. Conte até cinqüenta que eu vou me esconder, como nós sempre fazemos. Mas só até cinqüenta, viu? Porque se você demorar demais pra me procurar, eu vou acabar achando que acabou a brincadeira, e vou embora de vez.
Nós sempre fomos assim, você sabe, uma hora você some, outra hora eu sumo, sem satisfações e só com um nó no peito e cabeça de criança pra justificar. Nesse esconde-esconde do amor, eu nunca sei quanto tempo você vai demorar pra me procurar, e não adianta combinar, eu sei que você vai extravasar o limite. Mas eu nunca pulo fora da brincadeira, meu coração escondido prefere pensar que está na melhor porque ainda não foi achado. Nós revezamos sempre, quem vai procurar ávido do cheiro do corpo do outro, do toque, das mãos, e quem foge, se esconde sem saber se ainda quer insistir num amor sem pé nem cabeça, sem começo determinado nem fim anunciado, sem regra num jogo onde vale tudo. Nós sabemos que tem que ser corajoso pra brincar de amar.
E eu me escondi dessa vez, não quero mais desilusões infinitas, chorar e me sentir incapaz de te suportar dentro do peito, de tão grande que você é em mim. Meu coração é pequeno, e seu amor é tão enorme que me deixa cheia por todos os cantos, e no susto da brincadeira, quando você me encontra, ele quase explode de tanta coisa boa misturada. Tudo o que eu espero e quero, todos os meus melhores sentimentos, pulsando por você, esperando por você. Nem você e nem eu sabemos brincar, afinal. Eu me escondo, mas deixo rastros, mensagens, chamadas, pistas esquecidas no teu quarto e no caminho do corredor, torcendo pra ser achada logo, pra não ter que esperar muito. E peço baixinho pra que você me ache, e me segure forte com seus braços enquanto eu tento correr, porque eu sempre corro daquilo que cresce tanto e fica enorme em mim. Eu corro, me assusto, penso que amor demais não cabe, mas quando você me segura e eu sinto o seu cheiro na gola da sua blusa, eu acabo parando e rio, rimos sem parar. Porque aí tudo fica bem.
Mas às vezes você demora demais. Pára pra um café e inventa coisas pra não me buscar logo, e já nem sabe se ainda quer brincar de amor. E você demora mais que o comum pra me achar, e eu vou me entregando ao meu esconderijo e chorando porque nenhum dos dois sabe brincar, mas ninguém abandona o jogo. Olha, eu nem sei se ainda quero continuar a jogar dessa maneira, com você invandindo meus espaços, minha cabeça, entulhando meu peito de sentimentos e emoções. Assim como você, eu não sei o que fazer, então eu jogo, eu brinco. Você some, eu canso de procurar, mas busco até encontrar. E então eu sumo, você se desespera e pensa que me perdeu, mas tudo acaba bem no final. Tudo acaba ótimo, nos seus braços, tropençando no caminho mas juntos, e é por isso que eu ainda brinco. Eu corro, mas corro sempre olhando pra trás pra ver se você ainda corre atrás de mim. E se não te avisto logo ali, eu sento e choro e perco a cabeça e desejo não ter corrido. Nesse jogo do amor, cada um tem suas próprias regras, por isso se torna não cansativo e difícil jogar. Mas se você se entregar a mim, eu me entrego a ti por inteiro, o jogo muda e todas as partes pesadas saem da brincadeira. Se dividirmos os sentimentos, não fica mais difícil - e sim prazeroso - te carregar dentro de mim.

Clarissa M. Lamega

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A fórmula do amor

Há anos atrás,muitos antes de eu nascer, muitos estudiosos criaram as leis da física, que são seguidas e admiradas até hoje. Para conseguir tal feito, foram realizados vários experimentos que comprovassem as teorias. Me veio um pensamento, então, de que os experimentos não foram bem observados, e estão errados. Mas como eu sei mais que esses grandes homens que receberam tantos prêmios e foram homenageados por todos esses anos na história? Simples: com meus próprios experimentos. Como explicar a atração gravitacional que a sua presença exerce sobre o meu corpo, garoto? Diz a lei que apenas os planetas possuem um poder tão grande, mas eu duvido. Quando você chega perto de mim é quase impossível segurar minhas pernas no lugar, que tremem ansiosamente para caminhar na sua direção. Mas não é só a física que não funciona bem por aqui. A matemática falha e erra tantas vezes, porque se somarmos um mais um (eu mais você) o resultado sempre acaba em um. Então eu apago, tento novamente, e a resposta se repete e me confunde ainda mais. Nossa soma, mesmo tão imperfeita nas regras do mundo, nas minhas contas resulta em certeza absoluta. Amor absoluto.
E o tempo, então? Ahh, o tempo. Quem foi que disse para o Cazuza que o tempo não pára? Eu sinto parar, e eu sei que pára. O tempo pára quando eu sinto o seu cheiro em qualquer canto na rua, quando você me aperta forte nos seus braços. Tudo pára quando você me diz com o olhar tão sereno o quanto me ama, e que não consegue ficar longe de mim. Os segundos são paralisados quando meu celular toca e eu penso que é você, ou quando escuto sua voz baixinha no pé do meu ouvido. O tempo pára toda vez que você pega minha mão, quando te sinto perto mesmo estando longe. O mundo todo pára quando você me envolve e respira forte na minha nuca, e quando você me aconchega no seu ombro. Os segundos voam no meio das nossas risadas, e seguem lentos longe da sua presença.
Na química, é impossível entender o por quê a mistura dos nossos elementos não consta em nenhum canto da tabela periódica. Eu acredito e confio, que nossa substância ainda não foi descoberta, não foi criada, e que nós somos os criadores. Talvez, uma lei esteja certa entre nós: os opostos se atraem, com toda a certeza do que eu sinto e experimentei. No fundo, somos todos cientistas buscando explicações. Mas uma coisa eu digo: quem diz que todas essas leis e experimentos citados estão certos, é porque ainda não viu o nosso experimento. Ainda não conseguiu decobrir a fórmula do nosso amor.


Clarissa M. Lamega

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Retorno à mamadeira e fraldas: carta à mãe


Mãe. Quem sabe essa seja a palavra mais doce e protetora do mundo. Quero dizer, mãe, que eu sinto sua falta. Quero assumir, como poucos o fazem, que você é meu tudo, meu exemplo de coragem, de quem aceitou abrir a porta do mundo e sair sem bens, apenas com a dignidade, e construir. Construiu um novo sonho, uma nova vida, uma nova casa, com os móveis sendo comprados um à um, com o esforço da sua dedicação. Te admiro, com toda a minha força, e sou capaz de gritar o quanto eu te amo por todos os prédios da cidade. Eu sei, que apesar de suas rugas do cansaço causado pelo tempo, e apesar de sua rigidez e teimosia, o quanto você é bonita, a mulher mais linda do mundo. Eu sinto a falta da minha heroína entrando em casa após um dia cansativo de trabalho. Não reclamo: trabalhou duro por todos esses anos pra dar a mim uma vida confortável, às vezes com paciência em falta e broncas em sobra, mas sempre presente. Outras vezes tão suave me ninando no colo enquanto eu impedia seu sono. Porém, acho que nunca parei de ser um bebê.
Admito que, após anos sem usar fraldas, chorei por não te ter por perto enquanto os medos e mosntros da noite ameaçavam chegar. Não tive coragem de dizer-te, depois de ganhar minha indepêndecia e ir à escola sozinha, que buscava sua mão pra atravessar a rua. Digo isso porque seu namorado te rouba muito de mim, muitos dias por semana, e não me sinto capaz de lutar pelo seu tempo. Mas ontem, depois de ouvir sua voz ao telefone dizendo que chegaria em casa dali a meia hora, comecei a preparar meus melhores assuntos e palavras. Passou-se a meia hora algumas vezes, até eu ligar desesperada novamente pela sua atenção. Pedi pra você me levar ao colégio, pela forte chuva, e queria ser uma criança de novo. Queria poder dizer que quero colo, que quero carinho, sem parecer boba. E nesse dia, chorei. Ouvi sua voz e chorei, de tristeza e saudade, você tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Me sinto egoísta querendo te tirar do seu namorado pra te ter pra mim, como uma criança ciumenta. Porém, muitos dias por semana, quando só te vejo de manhã, não escuto o barulho de suas chaves na porta de entrada, não escuto seus pés e sua voz, e isso me dói por dentro. Até mesmo suas reclamações perfeccionistas de coisas fora do lugar me deixam mais feliz do que não te ver por perto. Existem dias em que quero muito te contar de coisas do meu dia, te pedir outras, te fazer rir, e espero sua hora de chegar ansiosamente, mais uma vez como criança. A hora passa, não escuto o barulho das chaves e vou dormir com fome de você. Mãe, sinto sua falta bem dentro de mim, e isso me corrói e me deixa com buracos no peito. No mercado, na fila da carne, você me abraçou forte e perguntou se eu senti sua falta, e eu queria chorar e dizer o quanto você me faz falta, todas as vezes que não ocupa sua cama de noite, que está longe demais por tempo demais, mas apenas disse que "sim, senti". Não quero estragar sua felicidade com minhas faltas, minhas ausências, mãe.
Mas sinto sua falta. Sinto falta de você me perguntar como foi meu primeiro dia de aula, de me dar colo e aconchego, sinto falta da sua conversa e suas piadas sem graça (que eu faço questão de rir fervorosamente), sinto falta das suas cobranças e de seus passos inquietos pela casa. Ainda sou uma menina, ainda sou seu bebê, quero colo de mãe e quero sua comida dada na boca, quero sua atenção e um pouco mais do seu tempo, e prometo crescer e amadurecer rápido. Talvez admitir que se sente falta da mãe, para pessoas da minha idade, seja algo condenável, nessa busca pela grandiosa independência. Mas eu faço isso por você, mãe. Eu faço isso por mim.

Clarissa M. Lamega

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ao sair, deixe a porta aberta, por favor

No dia em que você foi embora, eu descobri uma parte de mim que eu desconhecia até então. No dia em que você foi embora, eu não esperneei, eu não chorei. No dia em que você resolveu abandonar tudo, eu simplesmente consenti, não tentei te impedir. Eu sabia que cada vez mais esse dia estava chegando, e meu corpo inteiro estava reclamando e gritando sua falta, como aquelas dores de cabeça que pulsam e não deixam a gente fazer nada sem lembrar a cada segundo delas. Por antecedência, assim como um aviso, meu coração dizia: “Se prepare, isso vai doer muito, ele vai te deixar, você vai sofrer”.

E então, eu esperei me doendo por esse dia, esperei com aquela angústia chata de como se espera por algo inevitável. E eu me perguntava sempre, o por quê, por que levar adiante aquilo que já não se sente mais, que já não dá aquele friozinho na barriga que sempre aconteceu, por que você não acabava logo com tudo? O que eu realmente queria, era que você me tratasse logo com aquele jeito grosso de ‘não estou nem aí’ que você sabia muito bem fazer, e me fizesse acreditar logo que você não merecia tudo o que eu te dava e que me fizesse acreditar que eu odiava o que você se tornou. Eu queria mesmo que você matasse tudo o que eu sentia por você. Já que eu não conseguia fazer isso por conta própria, porque é muito pesada a culpa por ser homicida.

Aliás, homicida e ao mesmo tempo suicida. Porque, se tudo o que você me fez sentir me transformou, se seu sorriso e suas palavras e seu carinho e seus gestos me davam vida, matar essa vida seria matar a mim mesma. E eu não sou louca o suficiente pra matar algo que um dia foi a coisa mais importante e maravilhosa que já me foi dada. Esperar é o que me consumia, ter paciência me destruía. Essa sua indiferença na nossa relação sempre foi o que mais me corroeu, e em casos assim eu nunca soube me tranqüilizar. Pois então, pela primeira vez na vida eu não desejei nada, não quis tomar uma decisão, tive medo de agir. Pela primeira vez na vida eu tive uma sensação de incerteza seguida de uma falta de coragem devastadora. Pela primeira vez na vida eu fiquei parada. E esperei.

Me perguntei cem mil vezes o que você tinha feito comigo. Tentei por cem mil vezes ser forte e louca e homicida e devastar qualquer vestígio seu em mim. Chorei por cem mil vezes me olhando no espelho por não conseguir salvar a mim mesma. O que você fez para me desarmar desse jeito, tirar as barreiras ao redor do meu castelo? E então eu também me pergunto onde eu estava com a cabeça pra deixar você me invadir assim, pra permitir que você chegasse aonde nenhum outro jamais chegou?

Por muitas vezes você tirou uma carta da manga e me surpreendeu com seu discurso perfeito de mudança, de retorno à tudo o que eu mais desejei nesses últimos dias. E eu caí, não por não saber que você ia sumir de novo, mas só porque sentir o coração acelerar ansiosamente por você fazia do mundo um lugar melhor pra se viver. Apenas porque esse gostinho de felicidade momentânea e de morrer um pouco quando você aparece é o mais saboroso do mundo. Para sentir uma tristeza infinitamente maior e morrer muito mais quando você se vai.

Repito todos os dias pra mim mesma que cansei de ser meio amada, meio feliz, meio desejada. Cansei de ser meio forte, meio segura, meio mulher. Não quero mais ser meio solitária, meio perdida. E vou procurar alguém que só me dê tudo por inteiro, porque quero sentir ao menos uma vez a sensação imensa de ser totalmente feliz, totalmente amada e desejada. Minhas repetições nunca me trouxeram o que eu pedi, mas ao menos me davam um objetivo que me fizesse ter vontade de persistir, mesmo sabendo que, na verdade, tudo o que eu queria era você totalmente para mim. Então, no dia em que você foi embora, eu passei muito tempo comigo mesma, e descobri que eu era mais forte e destemida e corajosa do que eu imaginei que fosse, e que conseguiria mesmo seguir em frente. Descobri que viver já era ser muito corajosa.

E agora que você definitivamente foi embora sem dizer nada, eu me resumi aliviada. Aliviada, mas mesmo assim triste, porque tudo tem seu lado ruim. Descobri meu lado que também pode ser cem mil vezes mais calmo e esperançoso, é tudo questão do tal ‘instinto de sobrevivência’. E então, no dia em que você foi embora, eu me senti mais forte. Mesmo sabendo que tudo o que move essa força é um pedido secreto para que um dia você volte.


Clarissa M. Lamega

 
Só enquanto eu respirar. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino