segunda-feira, 5 de abril de 2010

Sou bicho de sete cabeças



Não é sobre você agora, pela primeira vez. Pela primeira vez é sobre mim e para mim - mas se você prestar atenção, se realmente desejar como eu espero que deseje, vai sentir que também é para você. Sinto um aperto no peito, vontade de jogar no mundo. Uma bola de fogo na garganta que me queima por dentro, me faz arder os pensamentos, o coração, minhas mãos e minha boca. Não tem jeito mais, acumula tudo e eu preciso cuspir essa bola de palavras de fogo, que ferem e ao mesmo tempo mostram a verdade. Minhas palavras machucam, são cuspidas para as pessoas todas do mundo, são jogadas sem medo, como se eu fosse um dragão ou qualquer outro ser que precisa ferir para viver. Nem ao menos faço de propósito: te juro que seguro ao máximo minhas frases e palavras plenas de sentimentos misturados, mas elas me queimam inteira por dentro, e preciso jogá-las para fora de mim. Ferem a mim, aos outros e a ti. Sou um dragão, bicho feroz por natureza, sem intenção de machucar porém incumbido de fazê-lo.Meu fogo arde e queima, e já se tornou comum ferir. Meus defeitos me fazem inteira, plena, e ao mesmo tempo me destroem. Sou bicho arisco, toque com cuidado, me segure da maneira certa.
Não acordo cedo, então não me peça para acordar com meus olhos te vigiando. Eu sei, é romântico e gostoso, talvez vez ou outra eu te surpreenda assim. Demoro para levantar da cama, me espreguiço e continuo deitada por um bom tempo ainda. Cozinho bem, mas em raras ocasiões tenho vontade de preparar um jantar especial. Fico de pijama até depois do almoço, normalmente, uso minhas pantufas cor-de-rosa com lacinhos sem pudor algum. Não espere uma reação imediata minha: tenho o desastroso defeito de demorar a analisar o que sinto. Penso, repenso, toco, viro, abro, especulo por dias para resumir em gosto ou não. Não me peça pra apressar meu tempo, apenas let it be, deixa ser. Tenho a maior calma do mundo, porém não me intimide errando várias vezes no mesmo ponto - finjo que não, mas sofro calada e acumulo tudo por dentro. Tenho medo de acumular minhas fraquezas e jogá-las em você, então apenas me abrace forte pra eu me recuperar e me acalmar no cheiro da sua nuca. Decodifico expressões, mãos e olhos e muitas vezes dou suposições ciumentas e erradas, te julgo mal por pensamentos que me enlouquecem. Meu ciúme pula na cabeça e amarra minhas mãos, me deixa brava e chorona. Cuspo palavras, firo, e me arrependo em seguida. Perdôo facilmente, mas não pense que esquecerei. Tenho um coração gigante, aonde o ar que circula é puro amor, mas que não se entra tão fácil. Tenho receio da entrega, do presente, mas se você persistir, conhecerá o meu mais íntimo. Cuidado aonde toca, nao quebre nada, nenhum elo ou confiança, entre com sutileza. Tenho medo do que desconheço, mas a partir do momento em que te deixo abrir o portão, girar a maçaneta da porta, me dou de corpo, alma, coração. Agüente firme, no começo parecerá uma enchurrada de sentimentos, coisas bonitas e outras nem tanto, sede e querer mais, mas logo acostuma. Tenho pavor, e ao mesmo tempo essa fome insaciável de amor, de bem-querer. Entrego minha confiança total, mas ela também é retirada facilmente. Não sei mentir, muito menos para agradar. Não te confiarei nada que eu pense que você não suportará. Não sou muito tolerante, cometo erros por medo, e às vezes fujo também. Corro para longe e ataco com minhas sujeiras e palavras de fogo.
Sou tão profunda que me perco dentro de mim, mas te entrego esse mapa para que você também não se perca. Entre com cuidado, coragem e disposição. Se essa for a sua vontade, se quiser me ter de verdade, siga as instruções e persista. Te entreguei meu mais íntimo pensamento, minha torre que me sustenta, meus defeitos. Saiba utilizá-los a seu favor, e peço que trate eles com atenção. Tome cuidado comigo: sou um dragão que cospe palavras de fogo. Sou um dragão cansado de amar errado, então por favor, se depois de tudo isso ainda aceitar minhas partes erradas e tortas, peço que continue. Me ame por inteiro, conheça o mel e o espinho. Só não desista no meio do caminho, não você ao menos. Chega de buracos no peito. Se ainda estiver disposto, enfrente. Em frente.

Clarissa M. Lamega

1 comentários:

SiBeL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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