Descobri que na frente dele não consigo dizer muita coisa. Mas sorrio o tempo todo, e só faço isso porque tenho vontade, porque ele me instiga a sorrir, porque ele me olha... e me olha parecendo querer me descobrir... E eu o olho com um monte de interrogações na mente. - Flor.
Tenho guardada comigo uma coisa simples, mas forte, que nem que eu queira consigo abandonar. Sim, é essa tal de fé que me faz continuar apesar de tudo. A esperança que não morre nunca, que me faz acreditar num happy end muitas vezes falho e não me deixa parar. Li uma vez uma frase da Martha Medeiros que diz a pura verdade sobre as mulheres: "a gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida". E eu acho que não vale mesmo, por isso que eu ainda não me larguei em qualquer canto dando bandeira branca. Eu não sou de conformismo, não aceito a idéia de que sapo não vira príncipe e vou continuar procurando o meu. Quero sair correndo e não precisar de ninguém, mas aí vejo seus olhos castanhos cheios de alguma coisa boa que não sei o que é, mas que vale a pena. E quer saber? Eu páro de correr. Páro e sinto vontade de voltar. E quero que você esteja ali quando eu sentir necessidade de voltar na maior vontade do mundo de querer ganhar o seu abraço. Eu vejo sua imitação pirata da carinha que o gato de botas do Shreek faz e quero largar tudo que estou fazendo, pensando e sendo. Sento em cima do meu coração esfarrapado e assisto tuas cenas, e rio e beijo com a maior serenidade do mundo. E não tô mais nem aí pra tudo o que passou, para as horas correndo. Crio coragem de sair de manhã, no frio, pra ganhar um sorriso seu de quem jurava que eu não apareceria. E esse seu olhar surpreso me vale por todos os absurdos que eu seria capaz de fazer para tê-lo.
Quero não precisar mais atrair um olhar furtivo de um bonitinho na rua pra me sentir bem. Quero que não faça a mínima diferença no meu dia o carinha estiloso que me cede a vez na fila do pão com uma piscadinha e uma voz rouca gostosa de se ouvir. E não precisar de gentilezas de um desconhecido para se tapar o buraco no peito. Que nenhum elogio alheio seja necessário para arrancar um sorriso. "Mas que seja você", rezo baixinho pra Deus escutar, "que seja você quem eu estava esperando". Quero provar pra todo mundo que eu não sou maluca e que sapo pode virar príncipe e que você pode ser meu sapo. Que nós podemos dar certo, eu tenho fé nisso. Que eu só precise dos seus dedos de leve nas minhas mãos, que eu possa encostar em você e escutar as batidas do seu coração me fazendo mais forte, sem medo de parecer piegas. E só isso me baste. Que eu admire você desde a teimosia dos cabelos bagunçados até a teimosia em discordar do que eu falo e fazer aquele tipo de frescura que eu odeio - só para rir da minha cara de desprezo. Que você me faça amar a sua cara de ciumento e as mordidas na bochecha. Que seja você o dono do olhar minucioso e furtivo, que seja a sua voz a mais gostosa de se ouvir. Que seja você o carinha da panificadora, que eu goste da sua piscadinha disfarçada e que você seja a fonte dos elogios que me deixam em pé. Que eu queira morar no seu sorriso de menino faceiro, que eu me apaixone por cada fiozinho de barba do seu rosto. Que eu ame as suas safadezas com a mesma tara que você ama as minhas provocações. Que eu saiba entender que as 'patadas' e tirações de sarro provêm de mais carinho guardado do que todos os melhores beijos que eu já tenha recebido. Que você entenda a minha loucura e ansiedade em querer tudo, e que eu saiba que quando você diz "calma" bem devagarinho é para eu despirar um pouco.
Porque encostar a cabeça no seu ombro e ficar respirando o cheiro do seu pescoço depois de um dia cheio foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Mesmo escutando um "não vá dormir aí, viu? Se você dormir e babar eu saio correndo" que me fez rir por você não saber o quanto eu precisava daquilo. E ganhar caretas, sorrisos e coisas que eu não teria coragem de pedir pra mais ninguém. Dizer a minha fraqueza de gostar de carinho nas costas e sentir receio de dizer que ando com vontade de te ver. Saber que eu sinto vontade de contar pra você coisas como "tô mal hoje" e que você vai entender. Dar um furo na rotina tão cansativa pra te escutar dizendo que se eu me comportar posso até ganhar um beijo no rosto, fazendo gracinha pra tirar minha cabeça desse mundo torto. Querer te ver às onze da noite só pra contar coisas, ou ficar abraçada contigo de um jeito que ninguém mais me fez ter vontade. Brigar com o computador que não me deixa te ver na webcam, e fazer um doce pra você travar uma batalha com a internet pra me mandar um beijo e uma carinha safada mesmo morrendo de sono. Olhar bem nos seus olhos sem dizer nada, e te deixar sem graça. Conferir o celular de dez em dez minutos, receber mensagem da operadora achando que é sua - totalmente desconcertante. "Pra que seja você, pra que dê certo", eu peço. Pra que tenha marra e mãos suficientemente insistentes pra me segurar. Porque tem vezes que eu quero sair correndo de pavor. Quero brigar com você por me fazer me encantar e ficar toda boba, mas só sorrio. E sorrio porque pode ser bonito o que vier, porque você também tem medo de levar outro tombo e porque estamos e viemos da mesma. O mesmo lugar de quem fica porque não tem opção mas quer sair e encontrar alguém. A gente se esbarrou nesse lugar e quem sabe estejamos saindo juntos por essa porta. Tenho medo de te pedir coisas que te assustem, de pedir demais pra compensar a falta que tenho aqui de muito tempo. Só quero ir sendo junto com as coisas, quero mais vezes sua mão quentinha que, por mais que não seja grande, fica enorme perto da minha. E coisas banais que fazem bem, até... até não sei quando! Mas que seja tempo suficiente, pra você e pra mim. Agora fique encarando meus olhos "feios" - como você brinca - pra eu ver você sem graça mais uma vez por hoje, pra eu deixar minha cabeça cair no seu ombro em mais uma risada gostosa.
Clarissa M. Lamega