quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Be the difference


É difícil, e é perigoso. Quer dizer, o que seus amigos vão achar disso? O que as pessoas vão comentar sobre você? É, eu sei. Não é fácil tentar melhorar o mundo. Mas também não é impossível, veja bem, é mais difícil encarar o que a sociedade vai dizer, o que seus amigos vão achar do que agir propriamente dizendo. Vou simplificar as coisas: queremos fazer, mas não fazemos por sentir medo do julgamento alheio. Eu não posso, de maneira alguma, confessar que participo de um grupo da minha igreja, porque imagine o que vão dizer de mim?
É bem mais fácil se acostumar com a idéia do impossível. Impossível dar um pouco de amor a um desconhecido, impossível fazer alguma mudança nesse mundo tão trágico e ferido aonde vivemos, é impossível fazer a diferença. É o que gostamos de pensar, pelo menos. E isso é pura ilusão, porque eu já presenciei pequenos gestos que acabam me fazendo pensar o quanto aquilo é importante. Uma vez eu fui comer espetinhos com minha família e um amigo, muito querido. Quando de repente, entra pela porta do local um homem triste e mal vestido, sujo por morar nas ruas da cidade. Sem pensar duas vezes, meu amigo pegou algumas moedas e pediu para o garçom dar espetinhos para aquele homem, que de tão surpreso e contente agradecia sem parar e tinha seus olhos brilhando. Foi um ato simples, e ao mesmo tempo tão maravilhoso! Então me diga como que o mundo não tem jeito? Distribuir gentilezas, ajudar, sem pensar no que vão falar de você, isso te torna uma pessoa digna de um segundo olhar.
Experimente sair pelas ruas distribuindo abraços grátis. Sabe-se quantas pessoas você pode ajudar, alguém que naquele dia estava triste, sofreu uma perda, e que um abraço de um desconhecido pode despertar um pinguinho de esperança. Não tenha vergonha, eu já fiz isso, e senti tanto orgulho que nenhuma exibição pros meu amigos me acharem o máximo compraria aquilo. Faça a diferença, num mundo tão perdido, seja alguém que ilumina. Be the difference, SEJA a diferença.

Clarissa M. Lamega





E
u preciso fugir de ser tão sua. É isso. Então penso em livros, caneca, cabelo, lenço, esmalte, roupa, palavras, estrelas, música, Deus. Deus, meu Deus, como isso foi acontecer? Como você consegue invadir meus espaços de tal maneira, que não sei mais aonde eu começo e aonde você começa dentro de mim? E tudo, tudo me leva até você, irremediavelmente. Mas o que resta é fazer um curativo nessa ferida que dói tanto, e esperar até ela cicatrizar. Embora saiba que existem feridas que nunca cicatrizam.

Clarissa M. Lamega

Sentir dói

Eu até que estava bem. Tava sozinha, mas bem. Sabe, às vezes vinha uma dor chata do fundo do peito que parecia tão vazio, uma dor de solidão de quem não tem em quem ao menos pensar e idealizar como a solução para um mundo mais cor-de-rosa. E eu não tinha mesmo ninguém, ninguém pra fazer esse papel tão bobo e ao mesmo tempo importante que é ser a minha pessoa. A minha pessoa, aquela que, pelo menos na minha cabeça e no oco do peito, poderia fazer o mundo desaparecer num sorrisinho tímido acompanhado de um “adoro quando você amarra o seu cabelo desse jeito”, dessa maneira bem besta mesmo. Besta, mas que a falta é capaz de me deixar idiota ao ponto de sentir falta. Só que não ter em quem pensar, não ter a minha pessoa pra quem enviar as minhas melhores vibrações, não era tão ruim quanto saber pra quem mandar todos esses sentimentos em um pacotinho de presente com um lacinho vermelho. Saber pra quem mandar e não poder mandar. Até que, conheci um cara. Numa festa, coisa de quem quer fugir da sua vida por uma noite e dançar até não saber ao certo como foi parar ali e por quê mesmo estava tão angustiada.

E dançava, dançava. E você, aquele cara legal amigo de um amigo de uma amiga, que não sabia quem era nem o que gostava e nem por que estava ali também. Dois desconhecidos, dançando juntos, dois fugitivos, correndo juntos. Veja bem, não te escolhi pra ser a minha pessoa, e não estava nem aí pra saber da sua vida e de você. Só queria dançar e beber por uma noite. Então rola de repente uma conversa banal, conversa de relacionamentos, daquelas que revela sem querer uma certa solidão, dos dois lados. Um beijo. Assim, sem esperar, um beijo de um desconhecido numa noite de fuga, o que deixou as coisas mais divertidas e um “sim, vale a pena!” chacoalha a cabeça, mas é só. Eu não esperava mais nada de você, assim como não exigia. Mas então, no dia seguinte, ligação, encontro; nos dias seguintes, ligações, encontros.

Descobri uma pessoa aonde não procurava, descobri o que eu não queria descobrir de uma forma tão gostosa de sentir. Tudo, tudo, tinha um propósito agora. Vivenciar, observar, rir e ter pra quem contar no final do dia, fazia com que eu nem soubesse quem era a mulher com um buraco no peito de antes. Tão simples e ao mesmo tempo profundo, complexo. Como explicar a atração tão grande, não apenas pela beleza do corpo, mas pelo tom de voz e pelo olhar, pelos traços das mãos e o movimento singelo dos olhos. Sim, me fazia feliz, me fazia pular de alegria, explodir meu peito que não estava acostumado a ter tanto de uma vez só. Eu mal te conheci, e já causava um maremoto nesse porto tão pequeno, que abrigava sentimentos tão pequenos. Mas a alma é grande, o sonho é grande. Quando o sonho se realiza, de uma maneira que não pode acontecer, o que a gente faz? Quero dizer, esse nosso lance, foi inesperado, foi mágico, e assustador, terrivelmente assustador. Você sabia tanto mais da vida do que eu, já havia sentindo tanto mais, tinha tantas mais histórias e experiências pra acumular, que me fazia tão pequena e indecisa. E talvez eu nem seja tão mais pequena, mas é como eu me sentia. Um pequeno porto frágil, que de repente se viu abrigando um enorme navio. E isso dá medo, medo de ganhar e ao mesmo tempo de perder. Medo de ganhar um amor tão súbito e inesperado como o de uma noite de fuga numa balada. Medo de perder tantos momentos e cenas engraçadas que poderiam vir com um sentimento que começava a crescer. E, como uma criança assustada, não sabia como sair bem dessa. O que fazemos então, quando o que pedimos tanto vem de um jeito tão errado? Talvez nem haja um jeito certo pras coisas acontecerem, mas o medo de sentir o proibido trai o coração.

Larguei, corri. Na primeira oportunidade, acabei com tudo, com seu olhar que entrava no meu como se inundasse minha alma de tantas coisas boas, minhas vibrações positivas pra que desse certo, sua risada que me fazia tanto bem, seus jeitos todos tortos e que tanto me davam prazer. Acabei com o que mais me fez sentir viva em tanto tempo. E sinto tanta falta, de uma conversa interessante de alguém que pudesse ser a minha pessoa. Mas eu quero que você escute, escute e entenda, que meu porto era frágil e pequeno demais. Meu porto era pequeno pra tanto que ia ganhar, pra um navio tão grande a aportar. Eu sei, eu sei que abandonei o barco por medo de tentar, por medo de ver a água começar a subir e não ter como fugir mais. Eu sei que se eu não ceder uma parte de mim, não posso mais ter suas conversas e um ombro largo pra encostar. Preciso que você saiba, da mesma maneira, que eu quis muito. Eu quis muito ser a sua pessoa, quis muito que você fosse a minha. Sempre imagino como seria, se eu fizesse diferente, e encarasse a tempestade nesse barquinho construído com nossas mãos tão erradas e sem direção, desde o começo.

Eu sempre tive, e acho que sempre vou ter um buraco no peito. Mas antes, eu não tinha em quem depositar esse caminhão de esperanças que carrego a duras penas. E agora, dedico tudo a você, deixo tudo pra você secretamente. Você, o cara da festa, tão errado e fugitivo quanto eu. Te entrego como um presente, só que é um presente guardado, esperando a ocasião da surpresa. Não vai acontecer, provavelmente. Mas você precisa saber, que existe alguém guardando sentimentos muito bons pra você, existe eu com uma saudade muito boba pensando em você. Não adianta mais querer remendar o que sempre foi torto. E, apesar de ser tão assustador, o meu portinho continua no meu peito, sonhando em ser maior e melhor pra abrigar o seu gigantesco navio.


Clarissa M. Lamega

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Sufoco. Acho que é essa a palavra, acho que é essa a definição da minha vida atualmente, sabe? Mas se você me perguntar o que extamanete sufoca, talvez eu não saiba responder. É que, quando tudo está estável, tranqüilo, bonito, sempre falta alguma coisa. Aquela sensação de vazio, você me entende? É, eu sei que preciso parar com essa insatisfação, mas o que posso fazer se tô aqui parada, sem ar? Depois de correr quilômetros, percebo que não sei o que estou fazendo aqui, e estou me sentindo exausta, sufocada e sem nada pelo que valha a pena lutar. Sempre no quase. Sempre no quase, é aonde sempre me sinto. Por isso talvez a tontura, a falta de ar, a mão apertando a minha garganta, e eu sem saber pra quem pedir socorro, sem ter pra quem pedir socorro. Enquanto não achar quem vai me salvar, enquanto não aparecer quem vai me fazer finalmente respirar livre, eu vou continuar assim: sempre no quase.

Clarissa M. Lamega


"Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar. Gostar é essa besta desenfreada mesmo. E não tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas você não sabe se é defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de você porque gostar não faz sentido. Permita-se. Se você acha que no fundo mesmo, apesar de todas essas reuniões e palavras em inglês que só querem dizer que você não sabe o que está falando, o que importa é ter pra quem mostrar que saiu o arco-íris. Permita-se. Porque eu não quero que você tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as próprias mãos. Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos. E mata tudo que há em volta. E explode os relógios. E chega aos poucos ainda que você ainda não saiba nem quem é pouco e nem quem é lento. Porque você morre. Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém, permita-se."

Tati Bernardi
"Na maior parte das vezes, aquilo que você mais quer é aquela coisa que você não pode ter. O desejo nos parte o coração, nos esgota. O desejo pode ferrar com tua vida. E por mais duro que seja querer muito uma coisa, as pessoas que sofrem mais são aquelas que sequer sabem o que querem."

Grey's Anatomy

domingo, 17 de janeiro de 2010

Espaço Lya Luft

Apesar de todos os medos, escolho a ousadia.Apesar dos ferros, construo a dura liberdade.
Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança.
Eu, (..........), sou assim.
Pelo menos assim quero fazer: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper.
A máscara do Arlequim não serve apenas para o proteger quando espreita a vida, mas concede-lhe o espaço de a reinventar.
Desculpem, mas preciso lhes dizer:
EU quero o delírio.


Lya Luft


“De algum secreto lugar me vem a força para erguer a xícara, acender o cigarro, até sorrir quando alguém me diz: ‘Você hoje está com a cara ótima’, quando penso se não doeria menos jogar-me de um décimo primeiro andar.”

Lya Luft


"Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos - e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna simples e tão indiferente."

Lya Luft



"A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada."

Lya Luft



sábado, 16 de janeiro de 2010


Pra onde você levou meus lápis de cor?


Tudo azul, tudo perfeito – é o que eu repito todos os dias enquanto acordo e levanto mais um dia sem você. Que céu lindo, olha o solão que tá fazendo hoje – e como seria tudo mais lindo com você do meu lado. A gente não consegue ter tudo o que deseja, não é? É.

Enquanto eu entro na minha rotina, logo imagino o que você deve estar fazendo. Me espreguiço, faço um café, e todas as coisas sempre são um mais ou menos que nunca me completam. Poxa, tô começando a achar que, quando você foi embora, levou mais do que uma malinha de recordações e felicidades nossas. Levou também todas as cores e o brilho que minha vida tinha com você. E ver tudo preto e branco acaba se tornando muito chato.

Então, eu acabo me acostumando. A gente não devia se acostumar com o mundo, com as bilhões de coisas lá de fora, com a solidão. Tudo fica meio, e a gente se acostuma, toma um café e se conforma. Você viu, um cara morreu com um tiro na cabeça porque devia dinheiro de cocaína pra um traficante. Aham, eu vi sim, igual aqueles outros. Sabe aquele homem maravilhoso que eu te falei? Foi embora. E a gente chora um pouco, mas logo lembra que a vida continua te empurrando e que não dá tempo de parar.

Você era tudo o que eu sempre quis, acho que eu nunca tinha sido tão feliz assim com ninguém. Tudo era maravilhoso, acordar com uma mensagem sua era a coisa mais mágica, como se as letrinhas saíssem voando do meu celular e flutuassem ao meu redor. E pra tudo eu sorria, e me animava, e fazia e cantava. Você transformou minha vida num punhado de confetes soltos no ar; desses coloridinhos e cheios de alegria. Eu amava te ver e fazer qualquer coisa com você, e sair da rotina e largar todos os meios. E então tudo era inteiro, tudo era cheio, uma felicidade completa.

Tão completa e cheia que uma hora estourou. Eu tentei juntar os pedacinhos e remendar, mas nem tudo é fácil assim. Agora, você levou os nossos inteiros e deixou tudo pela metade de novo. Eu não falo o quanto eu sinto sua falta, o quanto você me faz bem e nem o quanto as coisas ficaram cinzas. Só levanto a cabeça e dou um sorriso amarelo pra vida e pro mundo. Agora somos amigos, não é ótimo? Não. Porque eu continuo persistindo nessa coisa suja que sobrou, ainda quero mais e mais dessa sujeira. E você diz o quanto me adora, e que seremos amigos pra sempre, e blábláblá. E a cada palavra eu tenho vontade de jogar tudo no lixo e tentar ser inteira, inteiramente sozinha. Cada palavra sua pinta um pouco mais minha existência, me lembra o quanto tudo é vazio desse jeito como está. De tão acostumada com o sem cor, nem reparava mais em tudo aquilo que você me mostra ser lindo. Mexe com o mundo, trucida todos os monstros e chatices da vida, mexe com o coração e torna a rotina uma coisa melhor, numa simplicidade enormemente assustadora. E nessa mudança repentina de ambiente e sentimento eu me abasteço da sua magia. Essa graça toda que você me proporciona me faz sentir mais meio ainda, meio feliz, meio acostumada, meio bonita. Afinal, somos bons amigos, e só bons amigos, não é? Bom mesmo é se isso fosse verdade. Se eu não soubesse que cada pedacinho seu implora por um outro meu, e que mesmo assim somos amigos.

E nessa ilusão habitável que você cria em mim, já tenho um mundo próprio, o problema é que só entro ali com as sua chaves. Meus olhos pedem desesperadamente pra você morar ali comigo, meus sentidos piram imaginando o barulhinho das chaves balançando. Mesmo assim, ainda estamos aqui parados. O que eu queria mesmo é poder olhar pra você e mandar você ficar comigo, mostrar que estamos perdendo tempo e que a felicidade está do nosso lado esperando que você segure-a. Não, não diga que vai pensar, não pare pra raciocinar, apenas fique comigo e pinte o meu mundo inteiro com suas manhas e mágicas, me faça sorrir pros carros e pras janelas e para as árvores, me deixe boba assim. Eu sei que é o que você também quer, então chega desse lance de amizade que só funciona em filmes. Eu sei que você completa os meus meios e eu completo os seus, então vamos ser completos juntos. Mas mais uma vez eu só levanto a cabeça e dou meu sorriso amarelo pro mundo e pra quem mais quiser ver.

Eu saio com outros caras, e até que fico bem. Mas aí eu chego em casa e vejo o e-mail que você me mandou quando eu tava com outro. E eu sinto que mais uma vez fiquei pela metade, e que tudo o que você escreveu ali me deixou mil vezes mais feliz do que sair com outro cara. Então, eu me acostumo.

Chego em casa, faço minhas coisas e vou dormir repetindo mais uma vez: “tudo azul, tudo perfeito”, como um ritual. E, na verdade, o que eu mais queria era um dia poder estufar o peito e dizer isso sem remorso algum.


Clarissa M. Lamega

Tentando achar vida no mundo



Eu acho mesmo que o mundo tá precisando de ajuda. Não com toda essa história de salvem o meio ambiente, mas com as pessoas. O grande problema é essa gente que está esquecendo de viver. Viver é a coisa mais magnífica e linda que pode acontecer, mas ninguém mais vive.
Respirar simplesmente não é viver. Viver é agarrar todas as oportunidades, agarrar todos os sorrisos, agarrar essa vontade de ser feliz e agarrar a vida. As pessoas precisam dessa tara por rir até doer a barriga, tara por namorar e tara por sorrir pra todo mundo na rua dando bom dia. O mundo todo ta precisando dançar loucamente sem pensar no amanhã, o mundo precisa acordar e ver que o tempo passa e o que resta é aproveitá-lo. Para constatar essa ausência de vida, basta olhar por um buraquinho e enxergar gente correndo e respirando trabalho, gente atrasada, gente que até já esqueceu de olhar o céu azul e o solão lá fora, gente que mata por dinheiro, gente que rouba por drogas, gente que mente pra prejudicar alguém, gente que mente para si próprio. E aí você se pergunta o que está fazendo no meio desse povão que faz tudo pra sobreviver, mesmo sem viver.
Cadê aquela galera indo num parque aproveitar o sol? Cadê os pais que entendem e conversam com os filhos sem precisar brigar? Cadê as pessoas que não desejam mais que o bem para as outras? Tá tudo tão maluco hoje em dia que talvez essas coisas nem existam mais. E eu to sentindo um sufoco de tranqüilidade, uma falta enorme de ar puro e pessoas que não sejam tão piradas quanto o resto do mundo. Quero dançar até amolecer o corpo, quero gritar pra tirar esse aperto, quero pular e me esgoelar pela rua pra todo mundo fazer o que der vontade, quero beijar e achar alguém que me faça mais bem do que mal, quero rir pra todo mundo, quero brincar de pega- pega correndo no meio da Marechal, quero pintar os muros de colorido, quero abraçar o mundo inteiro. Mas desse jeito, todo mundo vai me olhar como se a maluca fosse eu. Sendo que eu só tô tentando saciar minha gana de vida e de cor desse mundão gigante.
Veja bem, se as pessoas deixassem de se preocupar tanto em prejudicar as outras, como tudo não seria mais fácil? Mas não, tem que haver inveja, morte, tiroteio, intrigas. Sem essas coisas, nem reconheceríamos nosso planeta, porque todas as pessoas estariam apenas tentando ser feliz. Esqueça o dinheiro, esqueça o atraso, esqueça seu amigo invejoso, esqueça tudo que é considerado normal e seja feliz. Jogue pra cima essas besteiras e faça o que der vontade, nem que você seja passado por maluco, porque você vai estar feliz demais pra lembrar disso.
Mas ao invés de viver intensamente cada minuto, invés de dar as costas pra toda a humanidade pra poder sorrir e viver mais, você só se olha no espelho e imagina que é apenas um pensamento bobo. Escova os dentes e vai trabalhar, vê os mesmos rostos apagados pelo caminho, vê o mesmo mundo cinza de sempre, e segue as regras da “normalidade” pregadas por essa sociedade que tem uns parafusos soltos. Tô mesmo indignada com esse mundo brega movido a dinheiro. Bom mesmo é se a gente pudesse viver jogando purpurinas pro alto sem medo de tropeçar e se esburrachar no caminho.


Clarissa M. Lamega
 
Só enquanto eu respirar. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino