Às vezes em um surto meio caótico me dá uma vontadezinha curiosa de instalar uma secretária eletrônica à la filme norte-americano em casa - dessas que deixam nosso recado após o sinal; biip; e pimba! Assim eu te daria uma chance (mais uma, dentre bilhões) de me deixar um recado meio bobo, desses que a gente nem sabe o que falar mas quer que o outro saiba que pensamos coisas bonitas dele. Mais ou menos assim: "Oi... sou eu..." e já dá vergonha seguida de uma sensação de completa idiotice por ser ridícula a idéia de dizer 'sou eu' quando a gente tem certeza que a outra pessoa já decorou o timbre e decodificou cada milímetro do som da nossa voz. "...Então, eu só liguei porque ando pensando muito em você..." tempo para avaliar o peso sentimental da frase que acabou de te desarmar completamente. "...Me liga, tá? Vou esperar, tchau." E eu chego em casa e vejo seu recado, me jogo na cama mordendo os lábios e quase tendo um piritreco pelo turbilhão que acabou de me levar. Sorrio para o teto, sentindo como se de repente todos os vulcões do mundo entrassem em erupção junto com todos os prédios vindo à baixo, com bombas explodindo com maremotos e flores nascendo, e uma nuvem de borboletas se espalhando por tudo, ao mesmo tempo. Enquanto isso, faço a pobre da secretária repetir milhares de vezes a sua voz. Só para ter essa leveza de querer estar aonde se está ouvindo o que se queria ouvir, sentindo o gostosinho no peito que é te ter por perto. Calmo, por inteiro.
Ou então, depois de um dia horroroso e cheio de desastres aperto o botãozinho e escuto o recado: você tem uma nova mensagem. Me atento rapidamente enquanto escuto sua respiração ofegante dando arrepio no meu corpo todo. Até paro de tirar os sapatos por alguns segundos, fecho os olhos para sentir o ar quente saindo das suas narinas e percorrendo a distância entre a gente. De certo, estava distraído esperando minha voz te recepcionar, pensando no bonito que somos nós e que sou eu, e que é você, sem prestar atenção no sinal do recado. Se deparou com o silêncio e minha amiga secretária eletrônica te guardou pra me fazer uma surpresa depois. Nem cinco segundos respirando junto com você e ela anuncia o final da mensagem. Ah, mas essa maquininha é esperta!
Ou então, depois de um dia horroroso e cheio de desastres aperto o botãozinho e escuto o recado: você tem uma nova mensagem. Me atento rapidamente enquanto escuto sua respiração ofegante dando arrepio no meu corpo todo. Até paro de tirar os sapatos por alguns segundos, fecho os olhos para sentir o ar quente saindo das suas narinas e percorrendo a distância entre a gente. De certo, estava distraído esperando minha voz te recepcionar, pensando no bonito que somos nós e que sou eu, e que é você, sem prestar atenção no sinal do recado. Se deparou com o silêncio e minha amiga secretária eletrônica te guardou pra me fazer uma surpresa depois. Nem cinco segundos respirando junto com você e ela anuncia o final da mensagem. Ah, mas essa maquininha é esperta!
Imagino também uma discussão besta (aonde minha especialidade é sempre ter orgulho ferido) e não te atender ao telefone de pura birra. É claro também que você demora a telefonar, me dando uma chance de assumir o posto humilde e telefonar antes. Como sempre, eu não telefono. E é até meio estratégico. Porque aí você liga e começa a falar após o "biip", mas sabe que eu estou ali te escutando e provavelmente aos prantos agarrada ao meu travesseiro. Começa então a conversar com a minha secretária, conta da mancada que deu comigo e como eu fui mesquinha, de como gosta de mim e da minha teimosia charmosa. Bate o pé, pergunta se a secretária acha que eu devia te atender e te perdoar. Eu começo a rir, com o traço visível de rímel escorrido no rosto e finalmente decido atender. Digo "bobo, você é mesmo muito bobo" rindo, e achando tudo aquilo absurdo e patético. Absurdamente necessário, quem sabe, pra que tudo dê certo.
Clarissa M. Lamega