Ao som de "Se fiquei esperando meu amor passar" Legião Urbana
Se eu escondia corações e bilhetes no seu carro, se eu te cuidava com detalhado carinho, eu te queria bem. E eu não sei por quê ando pensando tanto em um "nós" que não chegou a ser, sendo que o que era ficou. Não sei explicar bem o que a gente tinha, mas essa coisa não tinha razão concreta ou motivo, e simplesmente era. Talvez por isso mesmo fosse tão bonito. Nasceu sem pedir, fez morada em nós sendo fruto de alguns encontros descontraídos que queriam amarrar o ponteiro do relógio. Fez de você meu cobertor. Sabe criança que tem um cobertor predileto e não fica sem ele? E, de repente, essas lembranças apareceram arrepiando meu corpo inteiro que passou a notar e sentir falta de você, meu cobertor predileto. Você me paparicava com elogios banais e mãos carinhosas que te traziam pra perto, e eu adorava poder sentir seu cheiro e te respirar inteiro como se fosse o último bocado de ar que eu pudesse dar na minha vida inteira. Se por qualquer razão boba o silêncio pairasse no ar, eu dava uma espiadinha de canto de olho só para ter a certeza de que você ainda estava - e continuaria - do meu lado. Como se algum seqüestrador maluco pudesse te arrancar dali e sair correndo com você pra longe de mim. Isso que tínhamos se instalou em nós por conta própria, e dentro do meu coração era como se respirasse, pensasse, agisse sozinho e se alimentasse da sua presença tão esmagadoramente aliviante sem permissão. Começou a me (co)mandar na sua direção, sendo que não fiz o mínimo esforço pra deter o sentimento. Com aquele pensamento típico de "se as coisas ficarem sérias, eu pulo fora" fui alegrando esse bichinho que com voracidade me fazia procurar seu abraço forte, se fazendo meu porto seguro. Pra te falar bem a verdade, eu nunca quis ter um porto nem nada do tipo, quis ser livre e dona absoluta das minhas vontades. Mas não ter pra quem correr, voltar e pedir para segurar a mão pareceu a pior coisa do mundo, agora.
Te aceitei do jeito duro e inflexível que você era, e nunca quis ter ao meu lado um romântico à la poeta que escrevesse versos em papel vermelho-paixão para me encantar. Você era um cara destrambelhado e ao mesmo tempo tão sutil por dentro, que rabiscava um "eu te amo" torto e feito de caneta esferográfica no verso de um papel de Bis, colado na geladeira. Não que o Bis significasse alguma coisa pra gente, mas estava atrasado e não achou nenhuma folha dando bobeira por perto. Você me fazia rir e eu te desarmava quando olhava bem dentro dos seus olhos imaginando quem realmente era esse cara que me deixava tonta com tanta coisa boa em um segundo só. Eu queria tanto voltar para tudo isso que me fez tão bem, e quem sabe dar a chance de nascer algo novo, que me tirasse dessa loucura de conformismos com a vida. Tenho tanto anseio por mudar, renascer milhares de vezes por semana que eu preciso de um motivo para ser nova todos os dias. Me assustei tanto com a nossa compatibilidade imensa que percebi se anunciar por todas as partes do meu corpo que eu fugi. Aquilo que crescia me tirou do posto de comando de tal forma que larguei tudo euforicamente, acabei com o que tínhamos e corri para o mais longe possível. Noiva que abandona o altar, que vê o que sempre desejou ao alcance das mãos e sem motivo é tomada por um pânico que a deixa tão menor e assustada do que sempre foi.
Meu coração é um eterno achados e perdidos: se eu te encontro, me perco; se eu me perco, te acho. Me deixei perder, me permiti a felicidade tão maior de ter um porto e no momento do embarque voltei atrás. Talvez, a cena mais triste disso tudo foi quando eu gritei, aos prantos "vá embora!". E você foi. Virou as costas e caminhou devagar no sentido oposto, sem olhar para trás. Agora essa lembrança me deixava com olhos distantes dentro de um ônibus, o que me parece mais triste e solitário ainda. Te procuro através da janela, olhando em todas as direções por perto da sua casa, e se eu te visse nesse exato momento eu juro que apertaria o botão de "parada" e saltaria desse ônibus fingindo um acaso estrategicamente planejado de topar com você no caminho. Porque eu queria tanto te abraçar, te sentir comigo e conversar qualquer bobeira que nos fizesse rir de novo. Queria ver se o seu cabelo continua igual, se ainda tem aquela barba curtinha bonita, se ainda sorri daquele jeito especial quando está comigo. Eu queria saber se sente minha falta tanto quanto eu sinto de você, e se não daria pra encaixar um "nós" meio aos trancos no meio disso tudo. Aonde será que teríamos ido parar se o meu pânico não tivesse deixado o sentimento pela metade? Queria te encontrar e te falar baixinho como um segredo: "você foi o meu caso mais bonito, não se esqueça disso".
Clarissa M. Lamega
4 comentários:
"Ando tão necessitada de gente, ultimamente, mas você não precisa entender - nem eu entendo. "
Como não entender? Eu entendo!
Senti aqui dentro de mim, cada palavra descrita por ti! Ameeei
p.s adoooro esra música do Legião? e o que não gosto deles...
beijos
LIndo, lindo, lindo! Vc cada vez escrevendo melhor, me emocionando e querendo mais...
Bjs!
PS: Coloquei o autógrafo do caio num post, já viste?
obrigaada!
ando meio off ultimamente, mas é tudo fase, e agradeço o carinho mesmo eu estando tão longe *-*
Gostei do texto. Bem escrito. Percebo que você conseguiu expressar em palavras os sentimentos do coração. Muito bom.
http://simplesmentebaboseiras.blogspot.com.br
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