Garotos não resistem aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu sempre tão espertos
Perto de uma mulher são só garotos
Garotos - Leoni
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu sempre tão espertos
Perto de uma mulher são só garotos
Garotos - Leoni
A alma feminina pressente o fim, mas se agarra com as pontas dos dedos nos resquícios esfacelados de esperança jogados no caminho. E nós, mulheres, só prosseguimos porque lembramos da risada gostosa, das mãos que acariciavam, das palavras encantadoramente bonitas sussurradas ao pé do ouvido. E, sinceramente, não queremos - e nem ao menos buscamos - ver as coisas brutas da maneira como acontecem por parte do sexo oposto. Porque esmagamos com as unhas o racional e só damos liberdade ao coração para falar, desabafar e indicar o rumo. Nosso cérebro, coitado, pifa de tanto travar batalha com os sentimentos. E não sendo novidade, raramente vence.
Mas mulheres estão dispostas a tudo por um pouco de amor. Esse é o maldito erro cometido inúmeras vezes na nossa vida (ou então inúmeras vezes em um só dia, às vezes): topar chafurdar num poço de lama por um beijo na testa. Esse ínfimo beijinho é capaz de nos fazer batalhar contra meio mundo, deixar de escutar conselhos de amigas, mãe, revista, experiências anteriores e, principalmente, contra nossa própria cabeça. A única coisa capaz de transbordar nossos pensamentos continua sendo "hmm, será que se eu não telefonar ele vai me ligar?" e também "aah, mas quero curtir MUITO esse fim de semana, quero que ele veja o quanto me diverti sem precisar dele". E tem também o pensamento clássico do "e se eu me fizer um pouco de difícil, ele vai começar a correr atrás?". Pobres de nós, que enquanto sofremos angustiadas a dor da saudade, nossos homens sequer lembraram de telefonar para despirar um pouco a nossa cabeça. Estão lá, agarrados nas loiras geladas comentando sobre o resultado da última pelada do domingo à tarde. Enquanto arquitetamos planos para parecermos sempre atraentes, bem-resolvidas e sem necessidade alguma de testosterona em nossa essência de solteirice, eles somente se preocupam em não se preocupar. Para eles, não tem paranóia, não tem segredo algum; para nós, só é válido com um plano muito bem estipulado.
Mulheres sempre esperam a ligação do dia seguinte. Mulheres, ainda que sejam mais fortes, sempre choram no travesseiro a cada resposta ríspida, a cada sumiço repentino. Mulheres sempre acreditam nas boas intenções do cara. Mulheres sempre ligam instantaneamente para a amiga cheias de empolgação e ânimo para pensarem coletivamente o que tal atitude indicou e o que esperar dali pra frente. Somos extremamente ansiosas, detalhistas, corajosas. Não temos medo de arriscar insônias constantes em troca de abraços carinhosos e um peito forte aonde encostar a cabeça. Trocamos um desgaste mental desnecessário por ter a falsa sensação de segurança nos braços de um homem. Disponibilizamos corpo, alma, e fazemos a maior das entregas sem medo de sofrer: a entrega afetiva. E aí, já entramos de cabeça sem ter garantia alguma do futuro próximo. Tudo por um colo macio. Tudo por um pouquinho de amor. Pra passar o dia inteirinho pensando nele. Tudo por sentir borboletas no estômago com uma ligação. Tudo para sentir saudade da voz, para ansiar o toque. Para sorrir à toa lembrando de alguma coisa engraçada dele, para não ter vergonha de estar parecendo boba. Enfrentamos os comentários das amigas, amaldiçoamos quem diz que não dará certo, botamos a maior fé do mundo numa paixãozinha precoce que mal aprendeu a dar os primeiros passos.
Talvez seja essa a nossa arma mais mortífera: não ter medo de sofrer. Porque mulheres entram em milhares de enrascadas por esse ínfimo detalhe de não ter medo de sentir. Mas também, por outro lado, amam, sorriem, choram, se descabelam, sofrem, e sentem bem fundo tudo o que há para aquele homem. E depois que passa, tomam uma dose de coragem absurdamente grande. Erguem a cabeça, sacodem a poeira dos sapatos, retocam a maquiagem e estão prontas pra outra. Superamos, e ainda saímos com classe. Ao contrário do sexo oposto que, após um rompimento, imploram por uma aceitação de desculpas, reduzem sua capacidade cerebral a zero, armam um escândalo de infantilidade e dependência. Demoram meses para recuperar os ânimos, afogam as mágoas nos copos de álcool noites afora, provam de inúmeras bocas para promoverem uma falsa superação digna de pena. E ainda pensam que nós nem desconfiamos da dor que ainda aflinge aqueles corpos tão cheios de testosterona. De como sentem falta da nossa atenção, do nosso cuidado redobrado, do nosso carinho. Se sentem estupidamente melhores e mais fortes. Mas não são. Porque nós podemos chorar incontáveis noites afora, porém aceitar nossas fragilidades é ser forte. Já esconder a dor atrás da pinga e da azaração com certeza é de dar pena.
Mas, no fim, ainda achamos que o abraço mais apertado acaba valendo as noites de choro, e o dia todo com o nó na garganta reprimido é trocado por um simples sorriso do macho alfa que nos tira o fôlego. A raiva pelas infantilidades mesquinhas é chutada pra longe perto de um passeio de mãos dadas. E o estrago de um 'te amo'? Esse nem precisamos comentar! Readequamos nossa rotina, arrumamos um tempo inimaginável para arrumar cabelos, unhas, disposição e ainda por cima nos esforçamos ao máximo para a beleza trabalhada ser inteiramente natural. Arriscamos até um papo sobrenatural ao universo feminino só para descolar uns pontos. Engolimos o choro e disfarçamos a dor, lavamos o rosto e a alma para parecermos melhores para eles. Mal sabemos que, contando com nossa maturidade excepcional, capacidade de organização e atenção sem deixar de lado o gosto por cuidar bem dos nossos homens, já nos torna imensamente dignas do melhor que eles têm a oferecer.
Clarissa M. Lamega
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