quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Retorno à mamadeira e fraldas: carta à mãe


Mãe. Quem sabe essa seja a palavra mais doce e protetora do mundo. Quero dizer, mãe, que eu sinto sua falta. Quero assumir, como poucos o fazem, que você é meu tudo, meu exemplo de coragem, de quem aceitou abrir a porta do mundo e sair sem bens, apenas com a dignidade, e construir. Construiu um novo sonho, uma nova vida, uma nova casa, com os móveis sendo comprados um à um, com o esforço da sua dedicação. Te admiro, com toda a minha força, e sou capaz de gritar o quanto eu te amo por todos os prédios da cidade. Eu sei, que apesar de suas rugas do cansaço causado pelo tempo, e apesar de sua rigidez e teimosia, o quanto você é bonita, a mulher mais linda do mundo. Eu sinto a falta da minha heroína entrando em casa após um dia cansativo de trabalho. Não reclamo: trabalhou duro por todos esses anos pra dar a mim uma vida confortável, às vezes com paciência em falta e broncas em sobra, mas sempre presente. Outras vezes tão suave me ninando no colo enquanto eu impedia seu sono. Porém, acho que nunca parei de ser um bebê.
Admito que, após anos sem usar fraldas, chorei por não te ter por perto enquanto os medos e mosntros da noite ameaçavam chegar. Não tive coragem de dizer-te, depois de ganhar minha indepêndecia e ir à escola sozinha, que buscava sua mão pra atravessar a rua. Digo isso porque seu namorado te rouba muito de mim, muitos dias por semana, e não me sinto capaz de lutar pelo seu tempo. Mas ontem, depois de ouvir sua voz ao telefone dizendo que chegaria em casa dali a meia hora, comecei a preparar meus melhores assuntos e palavras. Passou-se a meia hora algumas vezes, até eu ligar desesperada novamente pela sua atenção. Pedi pra você me levar ao colégio, pela forte chuva, e queria ser uma criança de novo. Queria poder dizer que quero colo, que quero carinho, sem parecer boba. E nesse dia, chorei. Ouvi sua voz e chorei, de tristeza e saudade, você tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Me sinto egoísta querendo te tirar do seu namorado pra te ter pra mim, como uma criança ciumenta. Porém, muitos dias por semana, quando só te vejo de manhã, não escuto o barulho de suas chaves na porta de entrada, não escuto seus pés e sua voz, e isso me dói por dentro. Até mesmo suas reclamações perfeccionistas de coisas fora do lugar me deixam mais feliz do que não te ver por perto. Existem dias em que quero muito te contar de coisas do meu dia, te pedir outras, te fazer rir, e espero sua hora de chegar ansiosamente, mais uma vez como criança. A hora passa, não escuto o barulho das chaves e vou dormir com fome de você. Mãe, sinto sua falta bem dentro de mim, e isso me corrói e me deixa com buracos no peito. No mercado, na fila da carne, você me abraçou forte e perguntou se eu senti sua falta, e eu queria chorar e dizer o quanto você me faz falta, todas as vezes que não ocupa sua cama de noite, que está longe demais por tempo demais, mas apenas disse que "sim, senti". Não quero estragar sua felicidade com minhas faltas, minhas ausências, mãe.
Mas sinto sua falta. Sinto falta de você me perguntar como foi meu primeiro dia de aula, de me dar colo e aconchego, sinto falta da sua conversa e suas piadas sem graça (que eu faço questão de rir fervorosamente), sinto falta das suas cobranças e de seus passos inquietos pela casa. Ainda sou uma menina, ainda sou seu bebê, quero colo de mãe e quero sua comida dada na boca, quero sua atenção e um pouco mais do seu tempo, e prometo crescer e amadurecer rápido. Talvez admitir que se sente falta da mãe, para pessoas da minha idade, seja algo condenável, nessa busca pela grandiosa independência. Mas eu faço isso por você, mãe. Eu faço isso por mim.

Clarissa M. Lamega

1 comentários:

Evangelho de Vida disse...

Que fofo!

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