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terça-feira, 17 de maio de 2011
Ele
Não é a acusação infame dos meus dias de mau-humor chutando baldes adoidada. É a mão que se aproxima terna e amigável devagarinho por cima da minha durante o almoço de domingo. Não é o medo de um pesadelo que me faça quase implorar pra me acompanhar até o banheiro escuro para fazer xixi de madrugada. É o aceitar de dividir uma mesma cama no inverno mesmo correndo o risco de ter de deixar o cobertor quentinho para realizar o pequeno ato heróico de me proteger dos espíritos do filme de terror. Não é a impaciência pra esperar minha preguiça dar uma brecha e me dar coragem pra levantar de manhã. É o beijinho de "bom dia" risonho e a pergunta do "quer que eu te faça um café?" mesmo após eu ter acabado com as suas chances de uma futura esposa pró-ativa logo pela manhã. Não são as olheiras diárias por acompanhar comigo meus horários de dormir-tarde-acordar-cedo. É a demonstração irrevogalmente sincera da alegria que é presenciar minha rotina.
Não é o quase acúmulo de mofo por perder um domingo inteiro tomando bebidas quentes deitados por boa parte do tempo com a chuva pendente da semana inteira caindo lá fora. É ganhar o dia todinho por dividir as sobras do jantar inesquecível da noite anterior e transformar a simplicidade em banquete - puramente por acreditar que divisão é matéria de nobreza. Não é o dia terrível que me faz resfriar e ser tomada por uma fonte inesgotável de lenços de papel por todo canto. É você me comprando remédio e fazendo compras para minha casa mesmo no frio do cão que é esta cidade desde os primeiros dias de inverno. Não é o egoísmo de nunca querer sair debaixo da água quentinha do chuveiro. É te ver cuidando do meu resfriado como um pai de primeira viagem, mesmo estando doente também. E aí eu já consigo te ver daqui a uns dez anos cuidando dos nossos filhos com a maior corujice já registrada no mundo. Te vejo embrulhando a menina na toalha depois do banho e fazendo o pão do café da manhã que o menino vai tomar antes da aula. E você ensinando a jogar futebol e a torcer para o Atlético como a glória maior passada de geração em geração. Te vejo desajeitado arrumando o cabelinho cacheado da menina que é o xodózinho do pai. E por toda essa visão do futuro já vale a pena tentar ser cada dia mais para você.
Não é o atraso que nos força a sair correndo para os compromissos. São os tão preciosos cinco minutinhos a mais olhando bem dentro dos seus olhos e não desejando mais nada além disso no mundo. Não é o seu medo de alguma coisa dar errado. É a dedicação em me preparar pequenas surpresas para me conquistar todos os dias como na primeira vez. Não é o susto que eu passo a cada vez que te sinto estranho por um ciúme bobo. É amar a cada vez que eu encontro minha escova de dentes já preparada com a pasta me esperando em cima da pia. E por certas vezes também uma mensagem de pasta de dente no espelhinho do banheiro, que me lembra sempre o quanto é bom te ter na minha vida. Não é o tempo apertado, não são as tarefas domésticas que sufocam o dia. É ver o seu esforço em me ajudar em tudo pra gente poder se curtir sem permitir que o tempo passe quando chegar à noitinha. Não é por causa do vazamento do registro da torneira que me tira a calma. É a sua paciência de encontrar a peça substituta pra deixar tudo perfeito para mim. Não é o café servido no copo ao invés da caneca. É a divisão do vinho que você comprou ao meu gosto para me deixar feliz. Não é a mania de vidrar na frente de um jogo de homens disputando uma bola e um gol. É o costume de olhar pro céu noturno e sempre me falar para lembrar de enxergar a lua bonita que sorri para nós às onze da noite quando o cansaço toma corpo. Não é a teimosia de sair mal agasalhado em dias frios. É o cuidado em me cobrir de noite para que eu não sinta frio. Não é a mania de esquecer a aliança na beirada da janela depois de mexer com água. É a renovação sempre inesperada e linda quase semanal do pedido de namoro de que você tanto gosta. Não é o sono que te faz dormir no sofá. É o companheirismo de, mesmo caindo de sono, esperar meu esmalte secar para ir dormir depois.
É o toque sutil e quentinho das suas mãos, é confiar nas minhas mãos para fazer a sua barba, é a delícia de se deixar descançar com a cabeça deitada enclinada no meu peito depois de um dia inteiro. São as frutas picadinhas de manhã, é a divisão de um mesmo prato, e a risada divertida ao me ver almoçando de colher. É o amor pelos meus amigos, é a acolhida na sua casa, é me dar seus chinelos e ficar sem para eu não andar descalça. É me querer por inteira, mesmo preguiçosa, meio sincera demais e por vezes meio mesquinha também. É o me amar mais do que cabe no seu peito, o me abraçar como se não me visse há uma semana e o gostar do meu cabelo mesmo quando está embolado. É o carinho de segurar minha mão, de correr atrás de mim na rua como se voltássemos à infância e o se esconder atrás da árvore fingindo que já entrou em casa e me deixou para trás. É me carregar nas costas e me pegar no colo quando eu estou ruim. É elogiar a maneira como eu me visto, me acompanhar nas compras e fingir que ainda não cansou de andar pelas lojas até eu cansar também. É fazer café para mim e armar pegadinhas pra minha irmã. É considerar minha família como sua e ficar feliz de me ouvir pedindo no pé do ouvido pra morar comigo. É sentir o coração pular e se emocionar por ler um texto meu. É estar comigo mesmo que fisicamente se torne impossível. É escrever meu nome na janela embaçada só para se ver surpreso quando encontrar as letras outro dia, quando olhe pra ela de bobeira. É ser louco, apaixonado e prometer uma vida doce. É pensar a dois e não deixar que ninguém imponha solidão nisso. É amar a conversa, o formato da boca, os olhos, o rosto, o sorriso, o tamanho das mãos e a cor do esmalte da semana. É me amar infinitamente todos os dias deixando farelos de perdão e compreensão pelo caminho. É ser incrivelmente doce mesmo que a vida lhe imponha o amargo. Só você sabe como ser você, só você mexe fundo dentro de mim. Só você sabe como fazer eu me apaixonar e ter a certeza de desejar um único homem todos os dias da minha vida.
Clarissa M. Lamega
Suspiros:
Clarissa M. Lamega
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4 comentários:
Maravilhoso este amor cotidiano nada cansativo :) postei no meu facebook com os devidos créditos. Tudo lindo por aqui.
O amor de vocês me faz sonhar muito! Voce sabe Cissa, te desejo a maior felcidade possivel. Bru
Own amei o texto. Inspirador! Postei no meu blog(littlefeelingsx.blogspot.com) com seus créditos e direcionando pra cá. Quero que conheçam e se encantem como eu me encanto lendo seus textos. *-*
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