domingo, 24 de outubro de 2010

A risada


A risada. O que me pegou foi a risada. Ela é única, e sincera. Acho que em todas as vezes, eu a ouvi com o coração aberto, e talvez por isso seja tão bonita. É assim: ele começa a rir alto, e vai fechando os olhos devagarinho enquanto joga a cabeça para trás. E mal desconfiava enquanto eu ria junto, nem que eu não achasse graça. Eu ria só porque achava tão lindo alguém rir dessa forma tão espontânea, tão singular como era a dele. E a voz das gargalhadas só me deixava pensar "meu Deus, que delícia saber que eu tenho ele na minha vida. Não me deixe nunca perder essa risada de vista". Então ele ia voltando a cabeça para frente e olhava bem dentro dos meus olhos, com o rosto ainda todo vermelho e achando a maior alegria em coisas idiotas que não tinham a menor graça. "O que tinha graça era a risada", eu queria explicar. "O que me fazia rir era ver você sorrindo daquela maneira tão honesta", era o que eu sempre quis lhe dizer. Mas aí ele ia perder o riso e ficar com vergonha de alguém louca como eu amar tanto aquela risada. Eu nunca disse, mas o que me pegou foi a risada.
Eu queria tirar uma foto naquela hora, e emoldurar pra colocar na parede do meu quarto. Ou melhor: queria poder filmar escondido o barulho alto, que vai ficando mudo no final, só sobrando os dentes se exibindo para o mundo todo e para mim, os olhos apertados e as bochechas vermelhas. Deixar isso gravado no meu celular, no meu computador. Mas não deu tempo, não. Ficou só no coração, mesmo. E aí, depois do som da risada simpática, ele me olhava como se eu não entendesse qual era a graça, porque eu somente sorria perante aquelas gargalhadas. Não deu tempo de explicar que o sorriso leve era porque eu estava mais compenetrada em lhe filmar com meus olhos jogando devagar a cabeça para trás. E quando voltava, eu sabia de cor o próximo passo de mergulhar nos meus olhos ainda rindo. Observava enquanto contava quanto tempo demorava até eu me apaixonar mais uma vez por ele. Pelo dono da risada mais bonita do mundo. Por aquele que exibia seus dentes em um sorriso vantajoso por todas as paredes do quarto, pelas da minha alma. O barulho do riso que escancarava as portas do meu coração.
O que matou por dentro foi a risada. Na verdade, foi a falta dela. Agora escuto só em pensamento, distante, intocável. E me lembro de cada segundo daquela risada que fazia do mundo um lugar melhor de se viver. Não tem mais a jogadinha de cabeça para trás, as bochechas vermelhas, o olhar, o sorriso escancarado e sem medo. Isso sim, me dá medo. E eu nem tive tempo de explicar que o que me pegou foi o riso. Nem deu pra falar para ele que eu queria aquela risada todos os dias da minha vida. E que sempre que eu estivesse ruim, ainda quero ligar para ele e falar qualquer coisa que fizesse ele rir daquela maneira linda, só pra me dar um pouco de fé. Só pra saber que ainda existem coisas pelas quais vale a pena se reerguer. Não consegui dizer que preciso daquela risada na hora de ir dormir pra saber que o dia valeu à pena porque ele estava dentro dele. Não consegui falar que ainda espero ele voltar a cabeça para mim e ainda queria que seus olhos me procurassem. Não deu tempo de dizer que o que me pegou foi a risada.



Clarissa M. Lamega

4 comentários:

Anônimo disse...

há quem acredite que o sorriso é tudo, e eu sou uma que acredito piamente nisso. eu sei como é se apaixonar e se encantar por uma risada. amei o texto, é de uma beleza incriveel. mt lindo mesmo.

Amanda Arrais disse...

"Observava enquanto contava quanto tempo demorava até eu me apaixonar mais uma vez por ele."

Foi a melhor parte. Acho mesmo que o que nos prendem são esses detalhes que ninguém consideraria importante, mas nos ganham fácil.

Diário de uma Garota disse...

liindo esse texto cara ! *-* eu ando nas nuvens assim também com um gesto, nao a risada em si, mas o sorriso, adoro sorrisos, mas a 'dele' é especial :s adoorei o blog !

Encanto Cinderela disse...

adoramos o blog e estamos seguindo! quanto aos textos, nossa um mais lindo que o outro, vou postar um no blog viu? com créditos claro. beeijos doces!

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