segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um barco no meio da chuva

Foto: Bromden


Somos um barco no meio da chuva; um edifício no meio do mundo:

Fortes e unidos como a imensidão.

Ana Carolina - Um edifício no meio do mundo

A sensação de cuidar de alguém é mesmo muito esquisita: querer tanto bem a essa pessoa que às vezes deixamos de lado a nós mesmos. E eu preciso tanto cuidar de você - porque você não se cuida. Tá sempre tão ocupado com a segurança, felicidade, tranqüilidade, paz, dos amigos. Com a minha. E eu? Faço força pra aprender a cuidar de alguém. Dedico meu tempo livre a pensar em como foi seu dia, se está cansado, se pensou em mim. Às vezes até mesmo dentro do ônibus que eu pego todos os dias, encosto um pouco a cabeça e mando meus pensamentos encontrarem os seus. Nos primeiros raios de sol, nas primeiras gotas de chuva do dia, e nas últimas também.
Penso tanto em você e em como você se sente e o que você sente. Me preocupo se está sendo muito pressionado, se anda dormindo bem e se me deseja tão bem quanto eu te desejo. E nos últimos dias, tem sido esta umas das minhas principais ocupações. Não, não me leve a mal. É um dos melhores sentimentos que eu pûde ter ultimamente. Acho que não poderia gastar minhas horas de folga com coisa melhor do que esta: te cuidar até o último minuto. Até você se sentir melhor. Até você rir despreocupado. Até você querer me segurar no colo no caminho até a cozinha. Até você ficar me olhando te olhar nos olhos da vista de cima do seu peito. Até você enjoar de mim. Até você pensar que o mundo tá um lugar um pouquinho melhor de se viver porque me fez rir com uma comparação idiota sobre qualquer coisa. Até você se preocupar se eu tô feliz apesar dos nossos pesares.
Mas olha, eu juro que tô aprendendo direitinho. Tô aprendendo a lidar com seu jeito de esperar que eu te ligue, de ter receio à respeito de tudo, de fingir que não liga quando eu sou a única pessoa que não sái da sua cabeça. E aprendi que você amassou seu amor feito bolinha de papel só pra parecer um pouco menor e não me assustar tanto com a sua necessidade de alguém que te olhe enquanto você atravessa a rua. Pra eu não querer sair correndo com o tamanho do buraco que cresceu no seu peito. Mas você não sabe, não. Não sabe que viemos do mesmo lugar, e que meu buraco talvez seja incrivelmente do tamanho do seu. E do mesmo jeito eu sinto minha necessidade imensamente maior que a tua. E essa mania de querer diminuir o coração pra não dar medo nos outros é minha, viu?
Quanto mais você me olha, mais eu quero ser olhada. E quanto mais você me cuida, sinto mais forte que preciso te cuidar - pra me sentir bem, pra te sentir bem. E quanto mais piadas idiotas você faz, mais eu quero rir delas. Quanto mais você ri dos seus pensamentos secretos, daquela sua maneira de gargalhar espremendo os olhos, mais eu quero te descobrir. E quanto mais você prefere que eu tome cuidado pra você não me machucar - por descuido, por falta de tempo, pelo seu jeito fingindo não ligar - mais eu quero acreditar na gente. Porque eu acredito em você, acredito nos seus sonhos e acredito que você me faz querer ser melhor. Porque quando você ri descuidado, sem perceber o quanto eu admiro tua risada, eu pinto estrelinhas por todas as paredes do quarto e da alma. E quando você entrelaça seus dedos nos meus me dá vontade de grudar com super bonder pra garantir que você nunca vai me largar. Porque faltando cinco minutos pra gente se despedir, o coração já se aperta de uma saudade besta antecipada. Sempre. E quando você me aperta junto de você, eu sinto teu coração tão judiado querendo acompanhar o ritmo do meu, querendo saber me acompanhar. E te cuido, te olho, te beijo. E sinto saudade sem te ver por dias, mas contando cada dia como um a menos para te ver, e não como um a mais sem te ver. Sou ansiosa, maluca, pirada, preocupada, e você adora meu jeito de levar a vida.
Eu quero tanto, mas tanto cuidar de você. Quero muito te fazer rir no meio da tarde chata de domingo, escutar como foi seu dia e aquela prova em que você não sabia nada. Sobre os trabalhos atrasados e em como queria me ver ao invés de estar entre tantos papéis na frente do computador. Quero saber que o seu cuidar consiste mais em se preocupar do que em telefonar, procurar. Eu sei disso. É um cuidar de longe, sem querer se intrometer. E te dizer que te admiro pra caramba, admiro teu jeito protetor comigo e com quem você ama, e por isso cuido de você. Porque às vezes você cuida tanto dos outros que falta um pouquinho de tempo pra você. Então eu encosto sua cabeça no meu colo, te faço cafuné. Te dou um pouquinnho mais de chão te ligando pra você ouvir minha voz. Abro espaço dentro de mim, tiro a poeira do coração pra receber você e seu coração que já foi tão surrado nessa vida. E te prometo cuidar dele. Mas prometa que não vai desistir. De nós. Do que nós somos. Do nosso amor um pelo outro que é o que mais me alegra nessa vida. E é como diria Caio F: "eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também.". Então que você não desista de ser o dono das minhas preces carinhosas no travesseiro antes de dormir. Amém!


Clarissa M. Lamega

1 comentários:

Franck disse...

Como já quis cuidar de algumas pessoas, Clarissa! Hj, muito menos, pq ando quietinho, e, tenho dias bonitos, mesmo assim!
Obg pela força ao elogio dos meus textos, vc é um pouco responsável por me aconselhar escrever textos...
Vc, como sempre, arrasando na emoção dos seus!
Bjs*

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