domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sou tão perto de você


Vai lá, é a sua vez. Conte até cinqüenta que eu vou me esconder, como nós sempre fazemos. Mas só até cinqüenta, viu? Porque se você demorar demais pra me procurar, eu vou acabar achando que acabou a brincadeira, e vou embora de vez.
Nós sempre fomos assim, você sabe, uma hora você some, outra hora eu sumo, sem satisfações e só com um nó no peito e cabeça de criança pra justificar. Nesse esconde-esconde do amor, eu nunca sei quanto tempo você vai demorar pra me procurar, e não adianta combinar, eu sei que você vai extravasar o limite. Mas eu nunca pulo fora da brincadeira, meu coração escondido prefere pensar que está na melhor porque ainda não foi achado. Nós revezamos sempre, quem vai procurar ávido do cheiro do corpo do outro, do toque, das mãos, e quem foge, se esconde sem saber se ainda quer insistir num amor sem pé nem cabeça, sem começo determinado nem fim anunciado, sem regra num jogo onde vale tudo. Nós sabemos que tem que ser corajoso pra brincar de amar.
E eu me escondi dessa vez, não quero mais desilusões infinitas, chorar e me sentir incapaz de te suportar dentro do peito, de tão grande que você é em mim. Meu coração é pequeno, e seu amor é tão enorme que me deixa cheia por todos os cantos, e no susto da brincadeira, quando você me encontra, ele quase explode de tanta coisa boa misturada. Tudo o que eu espero e quero, todos os meus melhores sentimentos, pulsando por você, esperando por você. Nem você e nem eu sabemos brincar, afinal. Eu me escondo, mas deixo rastros, mensagens, chamadas, pistas esquecidas no teu quarto e no caminho do corredor, torcendo pra ser achada logo, pra não ter que esperar muito. E peço baixinho pra que você me ache, e me segure forte com seus braços enquanto eu tento correr, porque eu sempre corro daquilo que cresce tanto e fica enorme em mim. Eu corro, me assusto, penso que amor demais não cabe, mas quando você me segura e eu sinto o seu cheiro na gola da sua blusa, eu acabo parando e rio, rimos sem parar. Porque aí tudo fica bem.
Mas às vezes você demora demais. Pára pra um café e inventa coisas pra não me buscar logo, e já nem sabe se ainda quer brincar de amor. E você demora mais que o comum pra me achar, e eu vou me entregando ao meu esconderijo e chorando porque nenhum dos dois sabe brincar, mas ninguém abandona o jogo. Olha, eu nem sei se ainda quero continuar a jogar dessa maneira, com você invandindo meus espaços, minha cabeça, entulhando meu peito de sentimentos e emoções. Assim como você, eu não sei o que fazer, então eu jogo, eu brinco. Você some, eu canso de procurar, mas busco até encontrar. E então eu sumo, você se desespera e pensa que me perdeu, mas tudo acaba bem no final. Tudo acaba ótimo, nos seus braços, tropençando no caminho mas juntos, e é por isso que eu ainda brinco. Eu corro, mas corro sempre olhando pra trás pra ver se você ainda corre atrás de mim. E se não te avisto logo ali, eu sento e choro e perco a cabeça e desejo não ter corrido. Nesse jogo do amor, cada um tem suas próprias regras, por isso se torna não cansativo e difícil jogar. Mas se você se entregar a mim, eu me entrego a ti por inteiro, o jogo muda e todas as partes pesadas saem da brincadeira. Se dividirmos os sentimentos, não fica mais difícil - e sim prazeroso - te carregar dentro de mim.

Clarissa M. Lamega

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