quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A grande falta



Uffa! Finalmente aquele bichinho incômodo que você deixou agarrado em mim sumiu. Foi aos poucos aparecendo cada vez menos, visitando menos vezes ao dia, foi me deixando sozinha de madrugada e parou de aparecer repentinamente. É, ele era realmente insuportável, me pegava desprevenida, me fazia sentir enjôos, náuseas, saudades, tristeza. Me acostumei até, porque o bichinho me lembrava também o quão bom era amar você, me lembrava de tudo o que você me dizia, me acostumei com a sua presença. Ele me alertava bem baixinho de que você poderia estar me olhando na rua sem eu nem perceber, e esperançosa, me arrumava e te procurava discretamente.

Foi embora, foi sumindo, desapareceu. O amor enorme que eu queria tanto te dar, aos poucos também foi sumindo. Ahh! Que bom é não sofrer mais por amor, não ter crises de desespero no meio da noite, no meio de uma festa, no meio da vida! Que delícia não me preocupar toda hora se você está bem, se pensa em mim, não ter abstinência de você. Realmente aliviante. Agora eu posso pensar um pouco mais em mim, no que eu quero pra mim, na minha vida. Maravilhoso ser solteira, sair e se divertir, paquerar uns gatos por aí, beijar na boca de quem eu estiver afim. Uma delícia! Mas assim os dias foram passando, e eu amando não sentir sua falta, adorando essa vidinha boa sendo independente de você. Um dia desses, senti algo preocupante: tem alguma coisa faltando aqui dentro. Conferi tudo o que eu precisava, tava tudo ali no seu lugar. E esse vazio foi apertando, e eu fui me sentindo incompleta.

Me peguei sentindo falta daquele bichinho. Até que ele era legalzinho, me fazia viver preocupada com mais alguém além de mim. Eu já sabia o que eu queria pra minha vida e pra mim, mas eu queria dividir isso com alguém. Eu sei que antes o que eu mais queria era me ver livre dessa responsabilidade de ter alguém e ser de alguém mutuamente. Cansa, faz delirar, ter crises de choro. Mas ao mesmo tempo, não pode haver sensação mais compensadora na vida. Fazer alguém feliz, querer gritar pra todo mundo que ama, tomar conta de alguém, sonhar juntos, planejar juntos. É tão difícil se sentir completa estando sozinha! Falta sempre alguém pra elogiar, pra cuidar, pra dividir tudo na vida. Falta sempre alguém pra não ficar sozinha fazendo nada. Antes eu sentia solidão, mas eu tinha pra quem contar isso depois. E agora, quem quer saber o que eu sinto? Ei, to doando meu coração por um pouco de amor e atenção, ta afim? E você, quer ser meu? Prometo que vou cuidar bem de você, que não vou reclamar de tudo, que seremos felizes! Ahhh, entendi... pareço maluca demais, não é? Mas na verdade é o que toda mulher sozinha quer ter.

Tá bom, eu já curti a solteirice, já beijei muito, já aproveitei as festas, agora será que alguém pode me dar um colo e falar palavras bonitas no pé do ouvido? Será que alguém se interessa no tipo carinhosa romântica? Até agora não apareceu ninguém. E eu que estava achando que ia amar essa vida de solteira, agora tenho receios de dizer que gosto. Porque no fim das contas, é tão bom sair tendo pra quem voltar; tão bom sofrer sabendo que vai ganhar um mundo de felicidade depois; tão simples sonhar tendo alguém pra ajudar a alcançar o sonho. É maravilhoso poder falar que é de uma pessoa, e essa pessoa é sua, de mais ninguém. A solidão parece muito mais dura quando se sabe que se está realmente sozinha. Agora eu posso sair quanto quiser, beijar quantas bocas forem, nada vai tirar essa falta de um amor daqui. É uma saudade muito estranha a de estar apaixonada, porque eu sempre lembro a parte gostosa de ter um amor. E então eu penso que afinal, era mais feliz naquela vidinha turbulenta. Apesar das cobranças, satisfações a dar, broncas, ciúmes, faz falta ter uma pessoa que se preocupe e se interesse pela sua vida, que queira te ver bem.

Ah não! Não acredito que sinto tanta falta de um amor! Nunca se está satisfeito mesmo. Agora estou abrindo todas as portas e janelas do meu coração na esperança de que alguém aceite tomar um café ali, bater um papo, continuar visitando até morar ali dentro. Nunca pensei que fosse querer tanto que alguém morasse no meu coração e tomasse conta de todos os espaços vazios. Assim pelo menos eu ficaria cheia, não sentiria tanta falta de amor. Sei que depois estarei implorando pra voltar a ter aquele vazio, mas o que interessa é que agora isso é muito torturador. Volta, bichinho, sinto tantas saudades de você. Volte pra me lembrar daquela pessoa toda hora, pra me acordar com a preocupação dela estar bem, não me deixe dormir pensando neuroticamente nos nossos planos. Volte e encha minha cabeça de sentimentos misturados, de dúvidas infinitas, encha meu coração de saudade e amor. Volte pra me deixar maluca, se esconda aqui dentro de mim, vai. Volte pra eu ter certeza de que alguém estará sempre de braços e coração abertos pra mim. Olha, se você não voltar, eu posso ficar doente, viu? E a culpa será sua.

Tudo certo, eu ficarei bem. Sempre fui sozinha e feliz, não é mesmo? Mas, por desencargo de consciência, vou destrancar a porta só pra ver se alguém entra.


Clarissa M. Lamega

2 comentários:

Gabriela Furtado disse...

Muiiito bem escrito, adorei! Muito mesmo
parabéns:*

Clarissa M. Lamega disse...

obrigada, gabriela *-* mesmo, mesmo!

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